sábado, 1 de maio de 2010

AUGUTO DOS ANJOS: 126 ANOS DE POESIA

Provocador, sarcástico, realista, irônico, amante, mórbido, alegre, melancólico ou simplesmente poeta? Até os adjetivos se misturam na hora de definir o "filho do carbono e do amonîaco", como ele próprio escreveu em versos. O paraibano Augusto dos Anjos nasceu em 20 de abril de 1884, no Engenho Pau D'Arco, no município de Sapé, e se vivo fosse completaria hoje 126 anos - uma idade destinada apenas a quem invocou, em poesia, "viver na luz dos astros imortais". Mas o que tem iluminado a história de Augusto durante todo esse tempo está impresso em um único livro chamado Eu - um soco no estômago de dar náuseas a uns, ou causar euforia a outros, mas que não passa em leitura despercebido por qualquer dos mortais.
Em terras paraibanas, o poeta vem sendo homenageado para além das letras, com performances teatrais, música, paineis e palestras, na cidade natal Sapé, no evento chamado Os Anjos de Augusto (quem quiser saber mais sobre o evento, que se encerra hoje, pode acessar o endereço www.augustodosanjossape.blogspot.com, na internet. Especificamente hoje, às 8h, cerca de mil pessoas devem se reunir na comunidade Santa Helena, local onde estão o memorial Augusto dos Anjos, a igrejinha do Senhor do Bonfim e o tamarindeiro do poeta - a árvore, aliás, é elemento-chave nos versos de Augusto. Ali, à sombra da fruteira, poetas e não-poetas vão declamar trechos do Eu augustiano.
Poeta precoce, Augusto compôs seus primeiros versos aos sete anos de idade. Aos 18 nos ingressou na Faculdade de Direito do Recife, onde se formou em 1907. Três anos depois sobe ao altar com Ester Fialho. Tornou-se professor quando se transferiu para o Rio de Janeiro, onde lecionou em várias escolas. Assim como muitos outros amantes da poesia, Augusto morreu ainda jovem, aos 30, em 12 de novembro de 1914, em Leopoldina (MG). A causa mortis, porém, não foi recorrente da tuberculose de seus versos, mas pneumonia aguda. Leitor voraz de filósofos como Herbert Spencer, Ernst Haeckel, Arthur Schopenhauer e mesmo os autores bíblicos, o homem que levava os Anjos no sobrenome foi considerado por muitos um simpatizante da morte e da escatologia humana.
Poesia singular
A poesia de Augusto dos Anjos é tão própria que estudiosos da literatura brasileira se dividem ao tentar classifica-la. Seria o Eu um livro do parnasianismo? Simbolismo? Alguns outros anjos dos versos, como Ferreira Gullar, preferem classifica-lo como pré-moderno. Isso importa? Pouco, talvez. Pois o muito de Augusto está na agudeza de suas descrições, na quase crueldade com a até então preocupação estética da palavra, com a agressividade dos termos, com a poesia do corpo e alma profanados. "Tome, doutor, essa tesoura e corte minha singularíssima pessoa". Um recorte exato de um imortal, filho do carbono e do amoníaco.

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