terça-feira, 18 de maio de 2010

TEATRO SANTA ISABEL: 160 ANOS DE CULTURA E SONHOS - MERECEMOS!


Estopim de uma crise

No aniversário de 160 anos, Santa Isabel vai receber abraço de protesto de atores, diretores, grupos e coletivos, insatisfeitos com a política cultural da prefeitura para as artes cênicas
                                                  Pollyanna Diniz




Na véspera do aniversário de 160 anos do mais nobre palco de Pernambuco, um dos 14 teatros-monumento do país, o Teatro de Santa Isabel, atores, diretores, grupos e coletivos vão realizar um ato simbólico. Um abraço ao prédio de arquitetura neoclássica que já passou por três grandes reformas e recebeu grandes nomes do teatro pernambucano e nacional. O ato fraternal, no entanto, não é uma comemoração, mas um protesto. Na programação especial de comemoração ao aniversário da casa, divulgada semana passada pela Prefeitura do Recife durante uma coletiva de imprensa, os artistas pernambucanos ligados às artes cênicas não foram contemplados.


O palco principal do teatro será ocupado por nomes como Bibi Ferreira, acompanhada pela Orquestra Sinfônica do Recife, Rosamaria Murtinho e Natália Timberg e Marisa Orth. Amanhã, na mesma hora do abraço ao patrimônio, às 20h, estará sendo lançado um carimbo e um selo comemorativos. Depois, os convidados vão assistir a uma apresentação do grupo Sa Grama. Mesmo que não questionem o valor artístico de nenhum dos convidados, os artistas não se sentiram representados na efeméride.

Como não estarão no palco principal, os atores vão usar a rua - prometem performances, apresentações, figurino especial. A omissão dos pernambucanos na programação especial é, no entanto, apenas o estopim de uma crise - de uma insatisfação com a política cultural voltada para as artes cênicas. Logo que souberam da semana de comemoração através da matéria publicada no Diario, os artistas começaram a se manifestar através de e-mails. Vários deles, de artistas de diversas gerações, conceitos e trabalhos estéticos diferentes.

O primeiro deles foi do diretor Samuel Santos, do grupo Quadro de Cena, responsável por montagens infantis premiadas como A terra dos meninos pelados e Historinhas de dentro, e adultas, como a mais recente, Cordel do amor sem fim. "E a história do nosso teatro fica onde? Dos artistas que dignificaram e dignificam essa arte tão mal pensada por alguns órgãos culturais e por pessoas que perderam o senso de responsabilidade pelo teatro feito em Pernambuco."

Em pouco tempo, vários outros também se manifestavam: "Hoje cedo, aqui em Natal/RN, abro a net e vejo a matéria sobre o aniversário do Teatro de Santa Isabel e percebi que na programação não tem nenhum espetáculo do Recife. Nenhum tipo de espetáculo, de nenhuma linha, escola ou estilo. O que é isso? É o velho pensamento provinciano de sempre!", escreveu Fred Nascimento, do grupo Totem.

Carla Denise, do Mão Molenga Teatro de Bonecos, que vai participar do festival Palco Giratório com a montagem O fio mágico, disse que o problema é a forma como a cultura é enxergada; e isso não seria privilégio pernambucano. "É samba por lá ou frevo por aqui, no aeroporto! É o pensamento obsoleto que arte é coisa exótica, turística e fácil! (#) Mas, mesmo assim, acho que devemos continuar a produzir, a criar e a fazer o nosso trabalho; e a avaliar melhor o valor do nosso voto e da nossa participação colaborativa, comomuitos artistas já estão fazendo. Sendo caranguejos que abrem as cortinas aos outros. Diferente dos caranguejos daquela piada que circula há tempos, que derrubam uns aos outros", escreveu. Diante destas e tantas outras manifestações, os artistas decidiram organizar o abraço simbólico, mas nem todos veem o ato com fraternidade.

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