terça-feira, 18 de maio de 2010

TEATRO SANTA ISABEL: PROTESTO!


 Artistas reclamam que valor que a prefeitura vai pagar pelas apresentações do espetáculo Bibi IV é maior que prêmio de fomento

As manifestações da classe artística diante da programação de aniversário do Santa Isabel só aumentaram quando um dos e-mails revelou (o que, na realidade, estava publicado abertamente no Diário Oficial do dia 8 de maio) qual é o valor que a Prefeitura do Recife irá desembolsar para que as duas apresentações do espetáculo Bibi IV, com Bibi Ferreira, sejam realizadas: R$ 126.328,43.




"O valor pago a esssas duas apresentações é mais do que a prefeitura disponibiliza anualmente para cinco propostas no prêmio de fomento às artes cênicas, que é de R$ 100 mil", dizia o e-mail assinado por 'fika a dica'. A mensagem lembrava ainda que foi a hoje diretora do Santa Isabel, Simone Figueiredo, à época presidente interina da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, que assinou o polêmico cachê do show de Sandy e Júnior, no ano de 2004.

Diante da profusão de mensagens que aderiam ao ato público, grande parte delas copiadas para um suposto e-mail do secretário de Cultura do Recife Renato L, a prefeitura decidiu se pronunciar. Enviou, também por e-mail, uma carta-resposta. Num dos tópicos, o texto diz que "o prefeito João da Costa em momento algum desmereceu o valor da produção pernambucana. A matéria do Diario de Pernambuco descontextualizou a fala do prefeito do Recife, provocando no leitor a falsa ideia de que a Prefeitura do Recife não abre espaço para a produção local".

Mais adiante, a carta assinada pela assessoria de imprensa da Prefeitura do Recife diz que "somente no decorrer do ano de 2010, 18 espetáculos locais foram apresentados no Teatro de Santa Isabel. De 2008, até esta data, foram 137 montagens locais. É preciso deixar claro ainda que a maioria dos espetáculos locais montados no Teatro de Santa Isabel tem ISENÇÃO TOTAL OU PARCIAL (grafado em letras maiúsculas pela própria assessoria)". No texto há também uma suposta resposta ao questionamento ao critério da inexigibilidade aplicado na contratação do espetáculo de Bibi Ferreira. "A Prefeitura do Recife esclarece que a forma de contratação de espetáculos artísticos prevista na legislação vigente é a direta, através de inexigibilidade de licitação com base no art.25, caput, da lei 8666/93, razão pela qual a vinda do espetáculo mostra-se completamente consonante com a legislação atual". O que o e-mail do anônimo, assinado "fika a dica", questionava era, no entanto, o valor pago pela Prefeitura - assunto sobre o qual a carta não se pronunciou.

E-mail da Prefeitura exalta ânimos


O e-mail da assessoria de imprensa da PCR, ao invés de acalmar os ânimos, fez o contrário. Com relação às declarações do prefeito, que segundo a prefeitura foram descontextualizadas, Samuel Santos diz que "não são simples declarações. A questão é séria e essa infeliz programação comemorativa dos 160 anos do Santa Isabel é só um sintoma da velha moléstia herdade de velhas relações coloniais consolidadas".

O diretor continua questionando: "O Teatro de Santa Isabel é, antes de tudo, pernambucano. Onde estão os artistas pernambucanos nessa comemoração? Porque não foram incluídos ou representados nessa celebração?". Mais adiante, Santos diz o que os artistas anseiam. "O manifesto que aqui se realiza não é pedir para compor uma programação de comemoração do Teatro de Santa Isabel. É por uma política pública para as artes cênicas! Uma política que não seja exclusiva, separatista, preconceituosa e ditatorial".

A publicação na última quinta-feira no Diário Oficial dos valores que serão pagos às outras atrações inflamou a polêmica. Enquanto Sa Grama vai receber R$ 10 mil, o espetáculo O sopro da vida (Natália Timberg e Rosamaria Murtinho) levará R$ 41.528 e O inferno sou eu, com Marisa Orth, receberá R$ 73.100. "Esses artistas vão passar e nós vamos ficar aqui, fomentando, fazendo um trabalho de arte educação nas escolas, nos presídios, nas ONGs, nos circos. Eles passam, mas nós vamos ficar aqui tentando construir uma plateia, um teatro de qualidade, através de grupos, coletivos, colaborativos, produtores", afirma Samuel.

O grupo Magiluth também se posicionou. "Entendemos que a situação em relação à programação de comemoração do Santa Isabel é apenas o estopim de práticas governamentais. Um governo que não consegue entender uma real formatação de políticas públicas para a cultura (#) A questão que se coloca não é a qualidade artística do ícone Bibi Ferreira. O que devemos pensar é quantas produções com o dinheiro repassado para esta senhora poderíamos fomentar para a cidade. Quantos equipamentos poderiam abastecer nossos sucateados teatros", assina o Magiluth, que também vai participar do festival Palco Giratório.

"Perguntas permanecem sem resposta e não são questões de hoje. Mas são perguntas essenciais e que precisam de atenção: o que o poder público pretende fazer diante dessa realidade da qual essa questão do aniversário do Santa Isabel é apenas um detalhe? Onde estão os canais de diálogo e de realização efetivos que permitam ao teatro local almejar o mesmo apoio que países chamado do primeiro mundo oferecem aos seus artistas cênicos? Parecer primeiro mundo é uma coisa. Ser primeiro mundo vai exigir bem mais de todos nós", complementou o dramaturgo Luiz Felipe Botelho.






Humberto Maia

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