sábado, 3 de julho de 2010

ONDE SE APRENDE A SER CIDADÃO?



Luíza Ricotta*   
Em razão de alguns casos divulgados pela mídia a respeito de profissionais, pertencentes ao setor público, estarem envolvidos em processos administrativos, sob investigação, somos levados a crer que estes não estejam alinhados com o que a função solicita. O aspecto representativo do seu trabalho está direcionado para atender a sociedade. Funcionário público precisa ser modelo de excelência, pois todo o seu esforço ao ingressar na carreira cai por terra ao vermos que determinadas pessoas não cumprem com seus deveres. O que nos leva a pensar que a formação do caráter e o entendimento da representatividade que o seu cargo possui não foram suficientes para que seja garantida a imagem da instituição em que se trabalha.
Esse aspecto também nos possibilita refletir acerca das motivações que circundam sobre aquele indivíduo, que tendo feito jus ao seu ingresso não o mantém quando em atividade. Teria então a sua motivação ao pretender se tornar um funcionário público abandonado os aspectos que o fizeram levar ao sucesso de seu projeto? O que teria ocorrido neste percurso, onde teria se perdido? Seria o próprio ambiente o que estaria colaborando para tais ocorrências?
Uma das repercussões que esses casos causam na consciência dos cidadãos é que a própria máquina estaria toda ela viciada em razão de alguns que abusam do poder em proveito de seus interesses, adotando uma ética própria.
O sentido de representação é fundamental para este funcionário, pois, ao assumir o cargo, estará seguindo um código de ética que visa preservar a idoneidade e credibilidade não somente da instituição, mas também a própria. Profissional e instituição assumem uma estreita relação de pertencimento e comprometimento, no sentido de fazer-se representar e ser representado por ela.
Os candidatos que se preparam para os concursos precisam ponderar se vão dar conta dos valores sociais aplicados a sua ação profissional, dentre eles a lealdade em servir aos interesses da sociedade. O desvirtuamento custa caro moralmente para nós, que assistimos às punições sendo feitas e aos casos deflagrados no cenário das instituições públicas. Onde estes teriam aprendido a ser cidadãos?
Os valores sociais são aprendidos desde muito cedo, quando o indivíduo recebe as influências que lhe conferem uma identidade e uma marca específica e propiciam o desenvolvimento do seu caráter e da sua personalidade. Pessoas que são bem formadas tendem a uma compreensão de si e do outro, apresentam clareza nas suas atitudes, discernimento e esclarecimento. Sabem compreender as regras e os critérios que lhe são solicitados, pois são confiáveis, comprometem-nas, valorizam a sua imagem e mantêm-se coesos com o fato de pertencerem à instituição que tanto almejaram fazer parte. A estrutura a qual receberam da família lhes oferece os ingredientes básicos.
No entanto, quando o indivíduo necessita ampliar o seu mundo, a família o coloca em contato com outra dimensão, a escola, que irá representar para todos nós o aprendizado da convivência com as pessoas, o reconhecimento do outro diferente de mim, enfim, o treino dos valores sociais. É a partir da escola que sua visão de mundo se amplia. E, por conseguinte, a vida acadêmica e profissional.
É através da cidadania que é possível desenvolver a sensibilidade necessária para reconhecer o outro - imprescindível quando aliado ao caráter, que depende unicamente da postura pessoal, colocando-o diante da dúvida de lesar o outro em razão de um interesse e escolha individual.
O fato é que indivíduos que não exercitam a diferenciação entre contexto privado e público a partir da reflexão não saberão como agir quando a vida lhes solicitar uma escolha nestas situações - oportunidade de legitimar seus valores pessoais.
O profissional de carreira pública tem o compromisso, muito antes de qualquer juramento, de  ser ético. E se isso não vem ocorrendo em alguns dos casos apresentados, é momento para fazermos uma pausa e convidar a todos para aprofundar essa questão: onde é que se aprende a ser cidadão?

Luiza Ricotta é psicóloga e professora universitária. Autora do livro “Vida de Candidato à Carreira Pública: estudo - performance - carreira” (FMB, 2009). Email: profluizaricotta@hotmail.com

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