O SEGUNDO MAIOR MUSEU DA ÁMERICA LATINA AGONIZA

Foto: Inês Campelo/DP/D.A Press
O segundo maior museu do interior do estado não recebe mais visitantes. Desde o fim do ano passado, o Museu da América Latina, localizado no município de Garanhuns, a 230 quilômetros do Recife, fechou as portas. Para tristeza de seu idealizador e guardião, Josevaldo Araújo de Melo. O acervo começou a ser montado em 1995 e hoje conta com 1,2 mil peças de 12 países da América Latina, de 18 estados brasileiros e de 77 cidades pernambucanas. Grande parte do acervo é formada por esculturas de madeira e de barro, que chegam a custar R$ 5 mil. Toda essa riqueza cultural, no entanto, pode deixar a cidade. Sem apoio das autoridades locais, Josevaldo luta sozinho para manter o museu. Só com as despesas de aluguel do galpão onde estão as esculturas e com o pagamento de um vigilante são gastos R$ 1.680 mensalmente.

Os valores são desembolsados pelo próprio Josevaldo, professor de história da Universidade de Pernambuco (UPE). Para evitar prejuízo, ele já está pensando em colocar as peças à venda. "A Prefeitura de Garanhuns informou no ano passado que tinha interesse de incorporar meu museu à Casa de Cultura, que deve funcionar no antigo fórum da cidade. Mas até agora não fui procurado. Infelizmente já estou pensando num plano "B": vender as peças através de anúncio no jornal", desabafou.

O grau de decepção é proporcional ao sonho que o professor acalenta há anos. Sozinho, ele montou um museu que só não é maior que o Museu de Barro de Caruaru. O professor começou a montar o acervo depois de uma viagem que fez ao Peru, para um curso de 15 dias sobre a cultura peruana. Lá, teve a ideia e começou a colecionar itens para exposição. Na bagagem foram levadas peças de madeira, cerâmica e objetos representativos do país latinoamericano. Nes te início, foram reunidas 30 peças. No ano seguinte, em 96, Josevaldo foi a Bolívia. Como não poderia deixar de ser, aproveitou a ida para agregar outros itens ao museu. A viagem, aliás, foi uma das muitas que fez em seguida, sempre com o objetivo de colecionar mais e mais peças. De 95 a 99, ele expôs o que juntou das culturas peruana e boliviana. Na época, o museu funcionava de forma itinerante. Em 2000 ele abriu o Museu de Cultura Latino-americana, com peças de 12 países. O espaço cultural funcionava em uma sala alugada no centro de Garanhuns. "Meu sonho, na verdade, era expor peças dos 35 países da América Latina. Mas como as viagens são pagas com meu dinheiro, fica difícil sair do país sempre. Já cheguei a gastar boa parte do meu salário como professor para compra uma das peças", admitiu.

No acervo existem peças caras, como uma via sacra estimada em R$ 2 mil. No total, os valores das imagens variam de R$ 2 mil a R$ 5 mil. Ho je são contabilizadas peças de 19 países, entre eles Argentina, Uruguai e Chile. Verbas - O museu sobrevivia de doações e patrocínios, que foram ficando cada vez mais escassos com o passar dos anos. Como as despesas fixas continuavam, Josevaldo não viu outra saída a não ser fechar as portas, no dia 31 de dezembro de 2009. "Além das peças estrangeiras, também tenho artesanatos de vários estados brasileiros e de muitas cidades pernambucanas. O fechamento do museu significa que todo esse acervo de cultura brasileira deixará de ser apreciado gratuitamente", lamentou.

A Prefeitura de Garanhuns informou, através da assessoria da pasta de Turismo, que estão sendo captadas verbas para a reforma da futura Casa de Cultura, que reunirá as principais peças culturais e arqueológicas do município. O dinheiro será usado para recuperar o prédio do antigo Fórum da cidade, que está com infiltrações e problemas no sistema elétrico . Só após as obras o lugar receberá as peças raras. A assessoria garantiu que o Museu da América Latina fará parte do local, que também abrigará o Museu do Artesão. O acervo do professor, no entanto, deve ocupar mais de uma sala de exposição, por conta da grande quantidade de peças.

Extraido do DP

 

Mirella Marques