sexta-feira, 28 de maio de 2010

NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA PEDRA. TINHA UMA PEDRA NO MEIO DO CAMINHO...


Publicado em 28.05.2010
O governador Eduardo Campos (PSB) fica visivelmente incomodado, para dizer o mínimo, quando é questionado sobre as denúncias da oposição envolvendo a Fundarpe, da mesma forma que não gostava de responder sobre as denúncias contra o ex-secretário de Turismo Sílvio Costa Filho (PTB), que hoje estão sendo investigadas pelo Tribunal de Contas do Estado, Ministério Público e Polícia Federal. Ontem, na entrevista a Geraldo Freire, na Rádio Jornal, mostrou o mesmo desconforto ao ser questionado sobre o órgão. E o motivo foi um só: político não gosta de dar explicações, nem justificar atos, principalmente em ano eleitoral. O governador chegou a elogiar o trabalho da presidente Luciana Azevedo, mas reconheceu que não tem condições de dizer se existe inocência ou culpa, mas garantiu que deseja ver tudo apurado. O fato lembra o que dizia Miguel Arraes: político que precisa se justificar já sai em desvantagem.

» Ato falho
Para dar credibilidade à Fundarpe, Eduardo lembrou que chamou Ariano Suassuna para comandar a Cultura no Estado. Só que a Fundarpe pertence à Secretaria da Educação.
Mais suspeitas sobre empresas de eventos
Publicado em 28.05.2010
Sedes de outras três empresas contratadas pela Fundarpe para realização de eventos, visitadas ontem pelo JC em Itapissuma e Itamaracá, reforçam os indícios de que os endereços são de fachada

Gilvan Oliveira
Manoel Medeiros Neto

O JC visitou ontem as sedes de mais três empresas contratadas pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) – para realização de eventos – e o que verificou aumentam ainda mais as suspeitas sobre essas empresas. Os imóveis, em Itapissuma e Itamaracá (Região Metropolitana), em nada lembram sedes de companhias com faturamento alto. Pelo contrário: os estabelecimentos funcionam numa pequena garagem, numa residência modesta e numa casa de veraneio, sugerindo que os endereços são de fachada. E quem se dispôs a falar com a reportagem se negou a dar informações detalhadas sobre os empreendimentos. Juntas, elas receberam R$ 15,6 milhões da fundação.
A primeira sede de empresa visitada ontem foi a do Bloco Tá Legal Produções Artísticas, que entre 2007 e este ano recebeu R$ 3,699 milhões da Fundarpe. Ela fica na Avenida Agostinho Nunes Machado, nº 900, no Centro de Itapissuma. O local, recentemente pintado com a logomarca da empresa, é uma garagem que estava fechada.
Uma mulher que fazia serviços domésticos na casa em frente à garagem, que ela mesma afirmou pertencer ao dono da Tá Legal, informou que no local não havia telefone fixo e nem sabia os contatos do responsável pelo empreendimento. “Ele está viajando”, assegurou. A Tá Legal pertence aos sócios Glaydson Figlioulo do Nascimento e Severino Wellington Freitas da Silva, mas a mulher – que não quis se identificar – não informou qual dos dois seria o dono da casa.
No nº 933 da mesma avenida fica a sede da Figlioulo Produções Artísticas, empresa que faturou, nos últimos quatro anos, R$ 6,731 milhões em recursos públicos. Ela também pertence a Glaydson Figlioulo do Nascimento, mas com outro sócio: Inácio Antônio do Nascimento. Na casa, a reportagem foi recebida por uma mulher aparentando 60 anos, que não quis se identificar. Ela confirmou que sua casa é a sede da Figlioulo e não informou mais nada. Disse que lá não havia telefone fixo nem sabia os contatos dos responsáveis pela empresa. “Não sei de nada, não vou falar nada”, afirmou.
No bairro de Forno da Cal, em Itamaracá, o JC demorou para encontrar a Clarins Produções Artísticas, que recebeu da Fundarpe R$ 5,175 milhões entre 2008 e 2010. O endereço dela na Junta Comercial de Pernambuco (Jucepe) não bate com o da sede da empresa. Ela deveria funcionar no nº 2.175 da Rua Paraná, mas a numeração da via só vai até 200. A empresa funciona numa casa sem número entre a 157 e a 180.
A sede da Clarins é numa casa com muro alto, que aparenta ser de veraneio. No local, estava um homem em torno de 40 anos que se apresentou como Geraldo. Ele se disse “motorista do dono da empresa” e assegurou que lá funcionava de fato a Clarins. “O dono está viajando pelo interior, promovendo eventos, e o telefone dele eu não posso dar”, disse.
Desde o surgimento das denúncias envolvendo a Fundarpe, lançadas por deputados da oposição há duas semanas, o JC visitou as sedes de nove empresas contratadas pela fundação. Em oito delas, encontrou situações que sugerem a existência de empresas fantasmas ou de fachada. E em apenas uma, a Palco Show Produções, em Caruaru (Agreste), havia estrutura compatível com uma empresa grande de produção de eventos. A Fundarpe tem sido contactada para explicar quais os critérios para a contratação e quais os eventos promovidos pelas empresas, mas se nega a dar informações, sob a justificativa de que só dará explicações aos órgãos oficiais.
Eduardo decide não falar mais sobre o assunto
Publicado em 28.05.2010
O mistério em torno da lista de apresentações artísticas que consumiram do erário estadual mais de R$ 36 milhões, entre janeiro de 2009 e abril deste ano, é uma responsabilidade da Fundarpe, indicou ontem o governador Eduardo Campos (PSB). Questionado pela reportagem do JC sobre a decisão da fundação de não divulgar quais artistas foram supostamente contratados com os milhões, instantes após o término da entrevista que concedeu ontem na Rádio Jornal, Eduardo afirmou que não voltaria mais ao assunto. “A Fundarpe vai falar sobre esse tema. O que eu tinha para falar, eu já falei. Estou tranquilo de que a Fundarpe haverá de esclarecer todas as questões”, disse.
Questionado ao vivo na rádio sobre o suposto esquema de corrupção na contratação de shows, o governador defendeu a apuração das denúncias e a punição de hipotéticos culpados, mas lembrou que o tempo próximo às eleições é fértil para “denúncias vazias e infundadas”. “A Fundarpe está prestando todos os esclarecimentos, essa é a linha do nosso governo. Se tiver alguma coisa errada é para ser apurado, para ser punido. Agora eu não vou fazer o jogo vazio das denúncias infundadas, sem fundamento, sem conhecimento. O Tribunal de Contas está fazendo levantamentos lá, a nosso pedido, a Controladoria está fazendo levantamento, tudo com tranquilidade. Não sou juiz da oposição nem a oposição é juiz nosso”, disse.
Seguindo a linha do presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa (PDT), que subiu à tribuna na última terça (25) para lembrar que o governo Jarbas “também teve problemas” na área cultural – Uchoa também registrou não aceitar a acusação de que “todos são honestos, só Eduardo é safado” –, o governador lembrou que a “gestão passada” passou seis anos na luta contra a instalação de uma CPI. “O próprio governo que me antecedeu durante muito tempo teve muitas denúncias sobre questões de recursos na área de cultura. Durante seis anos, o governo (Jarbas) ficou evitando uma CPI na Assembleia, foi coisa pro Ministério Público...”, lembrou.
Em relação às empresas questionadas, o governador disse que elas “existem formalmente” e que há muita “informalidade” no setor. Ele também reiterou que sua administração avançou no setor cultural, inclusive convocando um artista reconhecido no País para liderar a Secretaria Especial de Cultura, o escritor Ariano Suassuna.
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Humberto Maia

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