Uma boa parte do mundo estará atenta esta semana ao que acontece em Viena, na 18ª Conferência Internacional sobre a Aids (18 a 23). No segundo dia do encontro, o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e o dono da Microsoft, Bill Gates, responsáveis por duas das maiores fundações de luta contra a doença, já realizaram suas conferências e ambos foram claros de que há ainda muito a ser feito. O encontro reúne cerca de 20 mil pesquisadores, médicos e associações de prevenção discutindo como melhorar as condições de vida dos portadores do HIV, e as novas descobertas sobre a doença. Não se trata mais de um problema só médico, ou científico, ou que possamos ficar indiferentes. A doença já matou mais de 25 milhões de pessoas desde a década de 80, e segundo a ONU, dois em cada três pacientes que moram nos países mais pobres do mundo não têm acesso ao tratamento antiviral.
O clima do evento não é bom, pois o problema está longe de ser equacionado, e a participação da comunidade mundial, principalmente das lideranças políticas, é cobrada de forma contundente. Deborah Glejser, porta-voz do Grupo Aids Genebra, que participa das cúpulas sobre Aids desde 1998, afirma que “sentiu claramente o desinteresse das elites políticas desde a conferência de Toronto (2006), à qual não compareceu se quer o primeiro-ministro do Canadá” (a primeira exceção para um país que recebia a conferência). A Organização Mundial da Saúde (OMS) faz uma projeção que nos próximos vinte anos, 70 milhões de pessoas estarão infectadas com o vírus HIV, caso não seja urgentemente aplicada uma ação eficaz a nível mundial.
Há alguns anos, quando se falava em Aids, centrava-se a discussão em como ajudar os países do terceiro mundo, notadamente a África (que ainda concentra grande parte do problema, considerando que 80% dos soropositivos do planeta vivem no continente africano). As coisas estão mudando. Ainda segundo a ONU, na Europa Oriental e na Ásia Central o número de pessoas soropositivas aumentou em 66% entre 2001 e 2008 (só na Ucrânia, 1,6% dos adultos estão infectados). O perfil das pessoas contaminadas também tem mudado nos últimos anos. Só para se ter uma ideia dessa mudança no Brasil, na década de 80 para cada 25 homens, apenas uma mulher estava contaminada. Atualmente, essa proporção de é 1 mulher para cada 2 homens. Os idosos também entraram nas estatísticas de casos crescentes, sendo o único grupo etário em que não ocorreu estabilização da doença. De acordo com o Ministério da Saúde, o número de pessoas com mais de 50 anos infectadas subiu de 7,5% para 15,7% de 1996 a 2006.
Para os interessados no assunto, dois livros publicados no ano passado podem ajudar nas reflexões sobre os problemas que gravitam em torno da doença: Aids e Direitos Humanos – Práticas Sociais em Situação de Discriminação, de Vanda Lucia Vitoriano do Nascimento, doutora em Psicologia Social pela PUC/SP e pesquisadora do Centro de Estudos Fundação Getulio Vargas, e Aids no Seculo XXI – O Que os Idosos Conhecem sobre a Doença?, de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco, coordenados pela pesquisadora Ana Flavia de Oliveira Batista.
Há muito tempo a Aids deixou de ser tema específico dos chamados “grupos de risco”. Não há mais grupos de risco, segundo muitos especialistas. Apesar de todo o avanço da medicina, a doença é uma realidade cada vez mais próxima e presente em toda a sociedade. Neste caso, a informação sempre foi, é, e continuará sendo, o ”remédio” mais eficaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante para nós. Deixe-o aqui e participe desse universo onde a opinião de cada um tem o poder de fazer as coisas ficarem sempre melhores.