A fantasia de uma terra que possibilita o acesso a êxtases e prazeres inacessíveis no cotidiano da existência. Carnaval, suingue, alegria e malandragem resumidas no jeitinho brasileiro.
Todos estes elementos constituem e caracterizam o país e servem como mote para a análise do livro "Fantasia de Brasil", de Octavio Souza.
Divulgação |
Obra resgata costumes e vícios que traduzem sociedade brasileira |
Na obra, a principal linha a ser percorrida é o esclarecimento da identidade nacional, assunto debatido desde muito tempo por estudiosos e intelectuais na busca de entender o exotismo e a tal "diferente" identidade frente ao comum.
Souza explica que o emprego do termo "identidade" sugere a expressão, quando aplicada a seres humanos, uma ideia de unidade e estabilidade que é conflitante.
Vícios, costumes e curiosidades da sociedade brasileira, desde o fim dos tempos de reinado português e as influências marcantes até hoje, são exemplificados e analisados de modo prático, e o autor mostra como estas características são ainda visíveis nas pessoas do país.
O autor informa que "percebemos que o esforço brasileiro de construir sua identidade pela afirmação da diferença diante do europeu é marcado por um paradoxo." Para Souza, "é necessário lembrar, de início, que a colonização do Brasil, em sua essência, com a ressalva do esforço jesuíta, teve muito mais o caráter de uma colonização territorial do que o de uma colonização de culturas nativas. Os índios foram antes exterminados, expulsos ou assimilados do que propriamente colonizados."
O título 'Fantasia de Brasil' brinca com as máscaras que foram colocadas, como a de Novo Mundo, a visão do paraíso, terra rica que foi sendo ao longo das décadas saqueada, e até o título desmonta a identidade que a constituiu, mas que, ainda hoje, sopra como um eco ou fantasma do imaginário popular brasileiro. A bandeira ao vento sonha com ordem e progresso no primeiro mundo.
Leia trecho.
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Há pouco tempo, viajávamos para a Europa, por exemplo, e a nós só eram dirigidas, no cotidiano dos encontros, perguntas relativas às nossas praias, ao nosso futebol, ao nosso carnaval, ao nosso candomblé e à nossa macumba. Hoje, as perguntas mudaram: só é questão dos nossos meninos de rua, da violência de nossas ruas, dos arrastões, do extermínio dos índios, da dizimação de nossas matas, da anomia de nossa sociedade.
Há pouco tempo, um psicanalista francês em visita ao Brasil me dizia emotivamente: ''eu não poderia dormir com todas essas crianças abandonadas nas ruas". Só pude responder devolvendo-lhe a pergunta implícita em sua observação: "como então você consegue dormir?!". A psicanálise, mais do que qualquer outra disciplina, ensina que, quando alguém comenta que o tempo está lindo, certamente não quer apenas dizer que o tempos está lindo. Realmente, é muito mais fácil discriminar os habitantes do país do carnaval e do futebol. Nesse ponto, todo cuidado é pouco!
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