“Olinda é só para os olhos, não se apalpa, é só desejo. Ninguém diz: é lá que eu moro. Diz somente: é lá que eu vejo”. Faz tempo os versos do poeta Carlos Pena Filho não batem com o que se vê em Olinda. Continua sendo patrimônio da humanidade, referência cultural de Pernambuco, principal polo carnavalesco do Nordeste - tirada a Bahia -, permanece um marco da nossa História como berço dos cursos jurídicos, mas dela sempre se espera muito mais que a inscrição de uma cidade que foi isso, foi aquilo. De Olinda se espera que seja o que imaginaram todos os cronistas, todos os poetas e, sobretudo, a sua população de hoje, que vê e vive a cidade em processo de degradação.
Apesar de tantas expectativas com a conquista do título de Patrimônio Cultural da Humanidade, a Olinda vista pela reportagem deste JC há poucos dias é uma cidade sem encantos. No Sítio Histórico, as ruas estão esburacadas, os monumentos abandonados, as igrejas com as portas fechadas e, como contraponto, obras públicas anunciadas mas sem prazo para terminar. E não se diga que falta à cidade o que todo governante municipal proclama como fundamental, ponto de partida para tudo mais: o apoio dos governantes do Estado e da União. Olinda há muitos anos é contemplada com a escolha de dirigentes locais sintonizados com os entes mais poderosos, que arrecadam mais tributos e dos quais dependem os prefeitos. Daí a perplexidade dos de casa e dos que chegam de fora diante da degradação de uma cidade que poderia ser um modelo no Nordeste.
Costumeiramente se argumenta que um dirigente municipal, além dos parcos recursos, padece do pouco tempo que dispõe para implantar seu estilo e programa de governo. Não é o caso. O que temos visto é não apenas a possibilidade da reeleição que assegura a qualquer dirigente público completar seus planos e deixar obras consolidadas para os sucessores, independente de siglas partidárias. Além disso, no caso de Olinda, há uma continuidade, de partidos e de pessoas ao que se supõe plenamente identificadas, seja pelo caminho político que percorrem, seja pela postura ideológica e em relação à administração pública.
Quando o atual prefeito de Olinda foi eleito, a suposição era de que teríamos apenas uma troca de pessoas - com os mesmos pensamentos, as mesmas ideias, as mesmas ambições como governantes -, na cadeira de dirigente municipal, desde o primeiro dia da nova administração. Não havia falar em arrumação de casa, ajustamento da máquina administrativa e outras frases tão comuns quando mudam os governos. Tudo parecia tanto a mesma coisa que a expectativa era de que no início do expediente do primeiro dia de trabalho os buracos que no dia anterior estivessem sendo consertados continuariam como se nada, absolutamente nada de novo estivesse ocorrendo. Uma sequência natural de obras públicas, assim como acontece numa obra privada, que não é paralisada porque mudou o seu mestre.
Diante disso, só podemos supor que a continuidade aconteceu em Olinda apenas na sua parte mais frágil: a incapacidade de atrair - com a urgência e a necessidade que cidade exige -, as atenções do Estado e da União, dois entes poderosos que podem fazer a diferença. Não acreditamos que falte ao atual dirigente de Olinda a capacidade para encontrar o caminho dos recursos federais, até mesmo por ter o prefeito vindo da Câmara Federal, onde se aprende o caminho das pedras. Como não se admite que falte ao dirigente municipal o empenho desejável e a competência para resolver os problemas da cidade, a única ilação possível para o processo de degradação em que se encontra Olinda seria a de falta de prestígio do prefeito para fazer valer a importância que a cidade detém, não apenas em relação ao Estado de Pernambuco, mas a todo Nordeste.
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Com os cumprimentos de
Humberto Maia
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