domingo, 5 de setembro de 2010

A PEDRA MAIS ANTIGA DO BRASIL ESTÁ NO NORDESTE



Aos olhos dos leigos, só uma paisagem rochosa. Mais uma, como tantas outras. Aos olhos da ciência, uma descoberta de valor inestimável. Pela região do maciço do Sobradinho, ao norte da represa de mesmo nome, muitos passaram, poucos perceberam, pouquíssimos pararam para estudar. Os que o fizeram, começam a escrever mais um capítulo na história da geologia. Naquela região, uma área de mais de três mil quilômetros quadrados que passa por Petrolina, no Sertão pernambucano, estão as rochas mais antigas da América do Sul. São raízes de antigos vulcões com 3,7 a 3,8 bilhões de anos.

A descoberta foi feita por três pesquisadores - Benjamim Bley de Brito Neves, da Universidade de São Paulo (USP), Reinhardt Adolfo Fuck e Elton Dantas, ambos da Universidade de Brasília (UnB). Em 1963, Bley cruzou com as rochas pela primeira vez, o que despertou sua vontade de analisá-las e datá-las. O achado contribui para o melhor entendimento da evolução da Terra. "Podemos recuar um pouquinho mais o registro geológico em nosso continente e obter alguma informação sobre o planeta cerca de 1 bilhão de anos depois de formado", enfatizou Reinhardt Fuck.

A rocha mais antiga já datada na Terra tem 4 bilhões de anos e foi encontrada em Acasta, no Canadá. Antes das novas descobertas, as mais antigas rochas conhecidas na América do Sul eram as da parte central da Bahia (Contendas) e do leste do Rio Grande do Norte, na cidade de São José do Campestre, ambas com cerca de 3,5 bilhões de anos.
A área onde foi feito o achado é, devido à construção da barragem de Sobradinho, área dedicada à agricultura. O maciço fica no médio vale do Rio São Francisco - a área que contempla uma porção do oeste de Pernambuco, do norte da Bahia e do leste do Piauí. Mas Benjamim Bley aposta que há mais o que tirar dali do que hortaliças. "A presença de rochas antigas é um excelente indicador da existência de bens minerais, como cobre e até ouro", disse. A presença desses minerais no local, por enquanto, é uma suposição.
Emrelação às novas meninas dos olhos dos geólogos, o pesquisador da USP afirma que há muitos anos se sabia que aquele era um núcleo antigo, mas nenhum pesquisador o havia datado geocronologicamente. Seu grupo o fez há cerca de cinco meses, por meio do método urânio-chumbo, representados pelas letras U e Pb, respectivamente. "Quando as rochas são velhas, o método U - Pb é o melhor. Tiramos o mineral zircão das rochas, calculamos o tempo de transformação do urânio em chumbo e, assim, chegamos à idade da rocha. Alguns minerais se transformam em outros com o tempo. A natureza é sábia. Ela não faz nada aleatoriamente", explicou Bley.
Um processo trabalhoso. Primeiro, os pesquisadores coletaram entre 10 a 20 quilos de rocha em Petrolina e Juazeiro. O material foi pulverizado, peneirado e inserido em líquidos de alta densidade para separar os minerais mais pesados. Nessa etapa, extraiu-se alguns gramas de zircão e analisou-se a concentração desses elementos. Segundo informações do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), são necessários 4,5 bilhões de anos para que metade do urânio se transforme em chumbo. Os cientistas estão preparando artigo científico para publicar o achado em revista especializada, mas já divulgaram os dados durante o Simpósio Sul-Americano de Geologia Isotópica, realizado em julho, em Brasília.

Como é medida a idade das rochas

Geocronologia é o estudo da idade da Terra e das rochas que formam sua crosta

A Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos

A idade absoluta das rochas pode ser determinada de duas formas:

Conteúdo fóssil

Se há fósseis na rocha, sua idade será a idade dos fósseis.

Mas nem toda rocha contém fósseis. As ígneas (magmáticas) nunca têm. E mesmo quando há vestígios de plantas ou animais, eles podem ser de difícil obtenção, para citar só algumas das limitações desse método

Datação radiométrica que usa a radioatividade natural das rochas

A datação radiométrica surgiu há cerca de 100 anos, quando descobriu-se a radioatividade

Os elementos químicos radioativos emitem radiação. Com isso, os átomos radioativos transformam-se em átomos de outro elemento, não-radioativos. Sabendo-se a velocidade com que esse processo ocorre, determina-se há quanto tempo esse processo está ocorrendo naquela rocha e, assim, sua idade

Exemplos:

O carbono 14 transforma-se em 14N (nitrogênio)
O 147 Sm (samário) transforma-se em 143 Nd (neodímio)
O 138U (urânio) transforma-se em 206Pb (chumbo)

A esse processo deu-se o nome de decaimento radioativo

As rochas mais fáceis de datar são as ígneas (magmáticas)

A antiga empresa de mineração pernambucana, a Minérios PE, foi extinta. Suas atribuições foram incorporadas à Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper), que está passando por uma reorganização. Hoje, é a Diretoria de Articulação e Desenvolvimento Local da AD Diper que tem a atribuição de fazer o mapeamento, o controle e a identificação das jazidas minerais do estado. Mas ainda não há projetos em curso. Eles estão previstos para 2011

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