quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A VERDADE SOBRE A OCUPAÇÃO DA REITORIA DA USP PELOS ESTUDANTES


 A política de Educação no Estado vem sendo permeada por esta visão privativista e descompromissada com o social, triste marca do tucanato à frente do governo paulista, que neste mandato completará 16 anos de poder.
*Márcio Amêndola de Oliveira
Nesta quinta-feira, às 17h30 aproximadamente, cerca de 300 estudantes ocuparam a Reitoria da Universidade de São Paulo após uma frustrada tentativa de audiência pública com a reitora da instituição, Suely Vilela, que segundo sua assessoria de imprensa, encontra-se em viagem à Europa.
A princípio, os alunos reunidos no auditório da Geografia esperaram por quase uma hora e meia o envio de um representante da reitoria, no caso, o vice-reitor Franco Maria Lajolo. Durante a audiência pública, por falta de um interlocutor oficial da Instituição (ausência de diálogo recorrente na USP, em prejuízo de estudantes e funcionários), os alunos decidiram pela leitura das principais reivindicações e a entrega do documento, em passeata pacífica à reitoria.
Ao chegarem no local, encontraram portas fechadas e alguns seguranças na entrada. Com a total impossibilidade de diálogo e de qualquer interlocução com a USP, os estudantes ocuparam a reitoria, rompendo duas portas (uma delas de vidro, que foi quebrada) e realizaram uma assembléia dentro do prédio, onde foi decidida a permanência no local, até que o vice-reitor atendesse aos alunos e estabelecesse uma agenda positiva de negociações. Após uma infrutífera reunião com Franco Lajolo, que terminou após as 22h00, o coletivo de estudantes decidiu pela permanência no local, até que as reivindicações sejam atendidas.
O que querem os estudantes da USP:
- Revogação do Decreto do Governador José Serra, que proíbe por tempo indeterminado a contratação de professores e funcionários para a USP.
- Revogação do ‘contingenciamento’ de verbas das Universidades Públicas e da Educação em Geral (este ‘contingenciamento’, em tradução simples, significa a retenção das verbas aprovadas no Orçamento do Estado para a área social – Educação, Saúde, Assistência Social – e geralmente têm como objetivo a redução do déficit orçamentário herdado pelos governos anteriores, leia-se Covas/Alckmin).
- Revogação do Decreto que impede que as universidades usem a verba sem autorização do secretário da Educação Superior (José Pinotti, que se tornou praticamente um interventor dentro das Universidades – USP / UNESP / UNICAMP) e tiram a autonomia universitária.
- Cancelamento de um ‘estudo’ que pretende cortar pela metade os prazos de tolerância para trancamento de matrícula e de realização dos cursos (exclusão de alunos que não conseguem concluir os cursos nos prazos regulares), já que tais medidas ferem a INCLUSÃO social, atingindo principalmente os alunos trabalhadores, que têm mais dificuldades em concluírem seus cursos.
- Ampliação da Moradia Estudantil (CRUSP), que a cada ano deixa mais de 500 alunos pobres sem ter onde morar e, indiretamente, acabam sendo obrigados a abandonar a Universidade.
- Melhorias na Infra-Estrutura dos diversos prédios da Universidade que estão em condições precaríssimas. Num destes prédios, onde funcionam os cursos de Geografia e História, houve uma grande enchente em 16 de março deste ano, quando as aulas foram suspensas. O prédio está repleto de infiltrações e apresenta rachaduras. Durante a chuva, várias salas de aulas foram inundadas, inclusive alguns departamentos. Os estudantes temem por desabamentos de conseqüências catastróficas no local. Muitas das salas têm paredes de madeirite pintada, com instalações elétricas precárias (‘gambiarras’). O prédio do curso de Letras, por exemplo, é um local ‘provisório’ construído há 20 anos, que daria lugar ao novo prédio, jamais construído. O descaso governamental com a USP ocorre principalmente nos prédios de Ciências Humanas.
- Retirada da USP das chamadas ‘Fundações’, que em convênio com a Universidade, representam, na prática, a privatização de cursos de extensão, geralmente pagos, a preços proibitivos para alunos pobres. Por outro lado, a carga horária de cursos regulares gratuitos (obrigatórios) é cada vez mais achatada, para possibilitar que professores altamente qualificados possam atuar tanto no ensino público como nas chamadas ‘Fundações’, num claro desvio de finalidade do ensino público, gratuito e de qualidade.
Estas são algumas das razões que levaram os estudantes à ocupação da Reitoria da USP. Esta é a verdade dos fatos. A política de Educação no Estado vem sendo permeada por esta visão privativista e descompromissada com o social, triste marca do tucanato à frente do governo paulista, que neste mandato completará 16 anos de poder.
(Márcio Amêndola – Coordenador de Biblioteca do Instituto Socialismo e Democracia Zequinha Barreto – www.zequinhabarreto.org.br / Graduando em História pela USP).

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