Por Antonio Candido de Souza
Desde a primeira metade do século XVII quando das invasões
estrangeiras ao território brasileiro, notadamente a invasão ao
território pernambucano((1630/1654), formou-se no Brasil o sentimento
nativista, os brasileiros sentiram que unidos poderiam implantar aqui
uma Pátria, prescindindo, inclusive ,do jugo português. A partir daí
muitos movimentos se fizeram presentes ao longo da história; Bernardo
Vieira de Melo, em 1710 fez ecoar o primeiro grito de república no
senado da câmara em Olinda, gesto este que lhe valeu terminar os dias de
vida no calabouço da prisão do Limoeiro.
Felipe dos Santos, em
1720 nas Minas Gerais, também, teve suas idéias de liberdade, tendo
ganhado a morte, pois seu corpo foi amarrado a cavalos e dilacerado nos
calçamentos de sua cidade; Tiradentes, como todos sabem, em 1789, foi
enforcado e teve o seu corpo esquartejado em praça pública, e ainda o
terreno onde se erguia sua casa, salgado, para que nem vegetação
nascesse, por defender, também, os ideais de liberdade de um povo
oprimido por severas restrições políticas e econômicas.
Em
1796, meus senhores, o sonho de liberdade voltou a Pernambuco, é fundado
nesta época, por Arruda Câmara, que se formara em medicina e ingressara
da maçonaria em Montpellier – França, o Areópago de Itambé (que veio
ser a primeira loja franco-maçônica do Brasil), na confluência dos
estados de Pernambuco e Paraíba; ali, embalados pelos sonhos e pelo lema
da revolução francesa, de (Igualité, Fraternité e Liberté) inspirados,
também, pelos maçons que fizeram a independência dos Estados Unidos da
América, plantaram a semente de uma república em nosso solo,
antecipando-se em quase um século àquela realização.
Com a
expansão dos ideais, chamados de franceses, difundiu-se, não só na
Europa, como também, na América a franco-maçonaria, sociedade secreta, à
época, não vinculada a religião dominante, e defensora de ideais
libertários. Pernambuco, sendo uma capitania rica e de grande atividade
comercial e cultural, logo absorveu os ideais, tornando-se assim, um
centro de atuação maçônico dos mais importantes do país, fundando-se
lojas as mais diversas como a Academia dos Suassuna no Cabo, sob a
liderança de Francisco de Paula Cavalcanti Albuquerque e Academia
Paraíso sob a liderança do Padre João Ribeiro.
Em 1817,
governava Pernambuco Caetano Pinto de Moraes Miranda Montenegro,
político dúbio, sem grande pulso, num momento em que Pernambuco passava
por uma crise econômica, já que com a vinda da família real para o
Brasil, a carga tributária havia sido aumentada, havia, também, o
declínio de preço do açúcar e do algodão, nossos principais produtos, no
mercado externo. Figuras de projeção na sociedade Pernambucana, então,
começaram a conspirar em torno de ideais libertários. Sabedor disso, o
governador manda então que Oficiais portugueses efetuem a prisão dos
conspiradores, tendo na ocasião havido revolta por parte de Oficiais
brasileiros, quando ao receber ordem de prisão o Capitão João de Barros
Lima (o famoso Leão coroado da nossa história), após ser insultado pelo
Brigadeiro português Manoel Joaquim Barbosa de Castro, desembainhou sua
espada matando-o, sendo secundado nessa ação pelo Capitão José Mariano.
Estabeleceu-se o caos, as forças revoltosas tomaram a cidade e o
governador refugiou-se no Forte das Cinco Pontas, tendo, no dia
seguinte, 7 de março, entregue a fortaleza ao líder liberal José Luís de
Mendonça e seguido para o Rio de Janeiro. Aqui, se estabelece uma junta
governativa composta por cinco membros: Domingos José Martins, pelo
comércio, José Luís Mendonça, pela Magistratura, Domingos Teotônio
Jorge, pelos militares, Padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro,
pelo clero e Manoel Correia de Araújo, pelos proprietários rurais.
Após esses acontecimentos a revolução se alastrou por diversas
vilas, destacando-se Itamaracá conduzida pelo Padre Pedro de Souza
Tenório, pelo morgado do Cabo Francisco Paes Barreto, bem como pelos
irmãos Cavalcanti de Albuquerque, descendentes de Jerônimo de
Albuquerque, que marcharam para o Recife e aderiram a revolução.
A fim de não ficar isolado, Pernambuco enviou emissários às capitanias
vizinhas: para a Bahia enviou o ex-padre José Ignácio Ribeiro de Abreu e
Lima, o chamado Padre Roma, que ao desembarcar de uma jangada foi preso
por ordem do Conde dos Arcos, processado sumariamente e arcabuzado em
29 de março, tendo seu filho Capitão Abreu e Lima (depois Marechal e um
dos Libertadores da América) assistido a execução.
Ao Ceará foi
enviado o seminarista José Martiniano de Alencar que se dirigiu ao
Crato, onde residia sua mãe Dona Bárbara de Alencar, tendo tentado
levantar a vila, mas logo foi preso. O jovem seminarista teve grande
atuação política no império, sendo o pai do grande romancista da língua
portuguesa José de Alencar, autor de Iracema, o Guarani, Tronco do Ipê
etc.
Na Paraíba e no Rio Grande do Norte, os revolucionários
tiveram um sucesso rápido, tendo o Capitão Manoel Clemente Cavalcanti
marchado com homens a seu comando e ocupado, com facilidade, a capital.
No Rio Grande do Norte o movimento foi comandado pelo Senhor de Engenho
André de Albuquerque Maranhão, o qual com um jovem oficial chamado José
Peregrino, marchou sobre Natal, ocupando-a.
A Reação da corte
não se fez esperar, já no dia 10 de abril, Recife se encontrava
bloqueada por três navios enviados da Bahia, por terra o Marechal
Cogominho Lacerda a frente de força de linha, foi arregimentando
combatentes no norte da Bahia e em Sergipe, tendo na sua penetração nos
territórios insurretos mantido pequenas escaramuças, culminando com a
batalha do Trapiche, em Ipojuca.
Dominada a revolução,
tratou-se de punir os revoltosos, sendo levados para a Bahia Domingos
José Martins, José Luís de Mendonça e o Padre Miguelinho, sendo todos
sumariamente executados. Em Pernambuco foram presos e executados
Domingos Teotônio Jorge, José de Barros Lima (Leão coroado), Antonio
Henrique Rabelo e o Padre Pedro Tenório.
Muito sangue foi
derramado para reprimir a liberdade, no entanto o ideal permaneceu
imutável nos corações pernambucanos, não morria ali, a característica
maior do nosso povo; diminuiu-se a chama que mais tarde se reacenderia
na Confederação do Equador.
A Revolução de 1817 foi um
movimento de cunho libertário que visava à deposição de um regime
absolutista, quando então se procurou implantar um sistema autônomo de
governo, algo avançado para a época; revelou novos ideais e plantou nos
espíritos a semente da liberdade, semente esta jogada no solo da Pátria
pelos nossos confrades que tão bem souberam cultivar o sonho de uma
sociedade mais justa; que a tríade Igualdade, Fraternidade e Liberdade,
continue perene em nossos corações e, que lastreados nisso, construamos
um mundo mais justo e mais perfeito para o bem estar do homem e glória
do Grande Arquiteto do Universo.
Salientamos que de todos os
nomes componentes do novo governo revolucionário, só não era maçom o
Senhor Manoel Correa de Araújo, o que demonstra o papel da maçonaria no
movimento.
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