São Paulo – As universidades federais
estão em uma encruzilhada: uma lei em vigor desde o mês passado impede
que elas exijam mestrado ou doutorado de novos professores. Tudo por um
efeito indesejado da Lei 12.772 que pegou de surpresa até o próprio Ministério da Educação, que agora promete providências.
A nova legislação equipara a contratação de professores a das demais carreiras do funcionalismo. Ou seja, de agora em diante, as universidades têm de seguir as mesmas regras nacionais de contratação do serviço público.
Com isso, ficam proibidas de exigir pós-graduação dos candidatos e o ingresso na carreira docente
passa a se dar como professor auxiliar, que exige apenas o diploma de
curso superior. Hoje, cerca de 90% dos professores das universidades
federais possuem mestrado ou doutorado, segundo dados do MEC.
A norma já provocou mudanças no processo de seleção de universidades
como a federal de Pernambuco (UFPE), que congelou os concursos nos
departamentos de Física e Química. “É uma questão de princípios. A
meritocracia prevalece em todas universidades do mundo e a nossa
universidade também tem de se basear pelo mérito”, explica o professor
Antonio Azevedo, do departamento de Física da UFPE.
Segundo o professor, que foi um dos signatários de um manifesto contra a lei,
as novas normas entram em contradição com projetos educativos do
próprio governo. “O governo manda gente para fazer pós no exterior no
Ciência sem Fronteiras, mas aí diz que para ser professor, basta ser
graduado”, diz.
Outras universidades também já se mostraram contrárias à nova lei.
A Unifesp divulgou uma moção de repúdio assinada pela reitora afirmando
que a lei “fere o princípio de autonomia universitária” e pode
“comprometer a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão
universitária”. A moção termina com um pedido ao Ministério da Educação
para que haja mudança nas regras.
MEC sinaliza alterações
No mesmo dia em que as regras passaram a valer, no mês passado, o
Ministério da Educação tentou resolver com uma nota técnica o feito
indesejado da lei, afirmando que a exigência para ingresso no cargo de
professor seria a graduação, mas que “as Instituições Federais podem
solicitar outros requisitos, como a apresentação de títulos de
pós-graduação, de acordo com o interesse da Instituição”.
Essa nota técnica, porém, não tem o poder de alterar a lei federal,
segundo entendimento da própria Advocacia Geral da União (AGU). Qualquer
exigência além da determinada originalmente poderia gerar o
cancelamento dos concursos.
Procurado por EXAME.com, o governo afirmou que vai alterar a regra para
permitir que as universidades federais exijam pós-graduação dos
candidatos. O MEC
não sabe, porém, como ocorrerá essa alteração, se por meio de medida
provisória ou projeto enviado ao Congresso, e não tem previsão de prazo
para essa mudança.
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