Caros amigos,
Em maio do ano passado, recebi com muita honra um título de "Professor
Emérito" concedido pela AESGA. Na ocasião, dirigi uma mensagem de
agradecimento que traz um trecho de incrível oportunidade no que diz
respeito à questão da FAMEG e achei que era bom relembrá-lo. O trecho
está sublinhado para destaque e entendo que vale a pena divulgar.
Grande abraço de Ivan Rodrigues
Maio de 2012
PARA A AESGA
At.: Dra. Eliane Simões
De repente, e lá se vão 35 anos, Everardo Gueiros bate na minha porta
anunciando a criação da Faculdade de Administração de Garanhuns e
encarecendo minha participação como Professor da nova escola, fruto da
surpreendente visão do nosso Prefeito Amilcar Valença.Tomo um susto e
manifesto a minha relutância em aceitar o convite, pois não tinha
qualquer experiência na matéria; conhecimento de um negócio chamado
pedagogia só por ouvir falar; tempo curto para me dedicar à nobre tarefa
em face de minhas atividades no Recife e, além de tudo, pensem numa
questão melindrosa: em pleno regime autoritário de 1964, um confessado
opositor do regime, lecionar a cadeira de Ciência Política, explicando
os fundamentos do sistema democrático para um alunado composto de
inúmeros militares do 71 B.I., inclusive graduados que hoje são meus
amigos.
Minha relutância foi vencida pelas razões expostas pelo nosso querido
amigo Everardo, dizendo das dificuldades para a implantação da
faculdade, sobretudo na obtenção de professores para garantir o início
de seu funcionamento. Tenho, pois, a convicção de que naquelas
circunstâncias qualquer um serviria...
Aí, como refere o poeta Bandeira, acontece o meu ALUMBRAMENTO. Quando
começo, com muita dificuldade, a desempenhar minha tarefa, descubro a
sensação maravilhosa do magistério. Empolguei-me. Apaixonei-me. Apenas
pela intuição, transformei as aulas monocórdias em centro de discussão e
debates e com isso tentava manter a atenção de alunos cansados após um
dia inteiro de trabalho, sem contar que as aulas eram às sextas-feiras.
Tomei gosto e só parei quando ficou cansativo demais.Intimido-me ainda
hoje, confundido entre tantos mestres e doutores que enaltecem esta
casa, mas sendo humano tenho que externar alguns orgulhos e vaidades que
carrego e vou desnudar agora: ser chamado de “Professor” por ex-alunos
inclusive por alguns que eu nem os reconheceria mais, se não se
apresentassem como tal; o fato de que nunca – mas, nunca mesmo –
necessitei chamar a atenção de algum aluno durante os oito anos em que
tentei ajudá-los a aprender; a honra de ter tido como alunos, algumas
figuras exemplares de cidadania e dedicação à causa pública em nossa
terra e que tomo a liberdade de representá-las – sem demérito das demais
– na pessoa da ilustre Presidenta da AESGA, Dra. Eliane Simões, que tem
sido peça importante e fundamental para o êxito crescente desta
instituição e que, por vezes, me deixa impando de vaidade quando me
chama de Professor; o orgulho de afirmar, sempre que posso, que sou
Ex-Professor desta casa de ensino. Hoje através desta significativa
homenagem, intitulando-me de “Professor Emérito”, convenci-me que sou
mesmo!
Teluricamente arraigado às raízes deste solo; com meu território
circunscrito pelas sete colinas; saciado pelas águas das fontes que
fazem história como Vila Maria, Pau Pombo, Serra Branca, São Vicente,
Pau Amarelo; com minha formação inicial no velho Diocesano, ainda no
tempo em que se escrevia Gymnásio com “Y” e com “M”; as lições de honra e
cidadania que aprendi com meu velho pai Zébatatinha, continuadas pelo
meu querido irmão Ivaldo que, falecido recentemente, deixou-me como o
novo patriarca da família e com o meu grande mestre e amigo Miguel
Arraes; minha residência assentada na Praça Souto Filho (poeticamente
chamada de ”praça da fonte luminosa”) onde fui morar há 62 anos quando
casei com minha eterna namorada e companheira Dulce; tenho meus avós e
bisavós registrados em nomes de rua de nossa cidade e todos eles
descansando para sempre em São Miguel e devo ser homem de muitas posses,
uma vez que tenho lá nada menos que quatro jazigos de família à minha
espera e disposição.
Como Luther King, mantenho os meus sonhos realimentados pelos devaneios
de Manoel das Estrelas que passava as noites recolhendo estrelas no alto
do Magano, para, na madrugada seguinte, oferecê-las à venda na feira e a
população se acumpliciava com seu delírio e as comprava; o acendrado
amor à terra de “Seu Thompson”, missionário americano de nascimento que
aqui aportou no início do século XX e que, após se aposentar tentou
voltar para sua terra de origem, mas sentindo-se um estranho, voltou
para Garanhuns onde recolocara suas raízes e passou o resto de seus dias
varrendo a calçada de sua casa na Praça D. Moura e sempre que lhe
perguntavam o que estava fazendo, respondia com sua voz doce e suave:
“Estou varrendo a PÁTRIA meu filho”.
Tudo isso me prende, de forma arrebatadora, à minha Garanhuns e
exulto quando vejo a grandeza desta autarquia idealizada e construída
por tantos que tiveram a visão de se anteciparem e se fazerem
protagonistas e não figurantes da história de nossa terra. Não quero
acusar ninguém, mesmo porque todos somos responsáveis e culpados pelo
marasmo e a perda de auto-estima de nossa gente, provocados pela omissão
de nossas lideranças que não aprenderam a lição do poeta: “Quem sabe
faz a hora, não espera acontecer!”.
Ficamos todos a esperar a iniciativa de nossos governantes e só
fazemos reclamar quando os benefícios não chegam. Quando falo em
lideranças omissas refiro-me a todos os setores de atividade e não
apenas às lideranças políticas. Chegamos ao absurdo de não aproveitarmos
a presidência da República de um filho de Garanhuns, durante oito anos,
sem que fossemos capazes de colocar um projeto, um plano, uma proposta
em sua mesa. Tudo que aqui aportou foi por iniciativa do Governo
Federal.
A mesma coisa ocorre com o Governo do Estado que já resolveu em
definitivo o grave problema do abastecimento d’água que – não podemos
esquecer - nos martirizava há mais de trinta anos. Retirou o presídio
feminino que o governo anterior resistiu e não o fez. Instalou uma
faculdade de medicina, no campus do UPE, quando forças não muito ocultas
procrastinaram - e ainda persistem - a instalação da FAMEG. A
implantação de um Expresso Cidadão que trará reais benefícios para a
cidadania de toda a região. Concluindo a ampliação do Hospital D. Moura
para capacitá-lo como Hospital Universitário e a construção de uma
Unidade de Pronto Atendimento Especializado. Tudo por iniciativa do
Governo Estadual.
Assisto, entristecido, essa crescente omissão de nossas lideranças
que, sem qualquer iniciativa consistente, limitam-se a aguardar as
sobras dos banquetes, para aí então se engalfinharem pela paternidade
dos eventuais benefícios que aqui aportam. Querem arrebatar o mérito dos
benefícios, sem que para nada tivessem contribuído. Nesse caso a
disputa é séria, pois todo mundo quer ser pai de crianças lindas, louras
e de olhos azuis.
Esta casa é um exemplo concreto de protagonismo ativo da construção
do nosso desenvolvimento, com a implantação dos cursos atualmente
existentes neste Campus. A Prefeitura não esperou por ninguém e como
fruto da visão estratégica do Prefeito Amílcar Valença, esta
instituição foi instalada, como esta efeméride anuncia, há 35 anos,
iniciando-se com a instalação da Faculdade de Administração. Como se vê,
a iniciativa foi das nossas lideranças de então e a lição serve como
emblema para as atuais e as que venham lhes suceder.
Garanhuns desfruta, hoje, os Campus da Universidade de Pernambuco, da
Universidade Federal Rural e da AESGA que ganhará, futuramente, o
status de Universidade, além da FAMEG que retomará, por certo, o seu
funcionamento. Vejam que importante estoque de inteligência, de saber,
de ciência, de tecnologia, de pesquisa, de ecologia e preservação do
meio ambiente poderá ser mobilizado para a construção de um modelo de
desenvolvimento estratégico sustentável. Para isso, impõe-se uma
indispensável unidade de pensamento e a congregação da sociedade civil
com suas lideranças políticas em torno da mudança dos costumes e da
prática da cidadania em nossa região, tornando-a capaz de fazer-se
protagonista da nossa história. Para tanto, confia-se na capacidade e
competência dessa extraordinária fonte de saber que o nosso centro
universitário vem acumulando. Todos somos responsáveis e dessa
responsabilidade ninguém pode se eximir.Obrigado AESGA, com o profundo
respeito de Ivan Rodrigues"
Ivan Rodrigues
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