Foi ao som do forró que família, amigos e admiradores se despediram mais uma vez do cantor, músico e compositor José Domingos de Moraes, o Dominguinhos, na manhã desta quinta-feira (26), no restaurante Arriégua, na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife. Lá, o caixão recebeu uma benção de despedida. O local pertence a um amigo de Dominguinhos, Luiz Ceará, e era ponto de encontro do músico quando vinha à capital pernambucana. O corpo foi removido do cemitério em Paulista, onde estava enterrado, e segue com o apoio de batedores da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para Garanhuns, no Agreste do estado, cidade natal do músico, onde terá um novo sepultamento.
Durante a manhã, dezenas de admiradores se reuniram no restaurante para prestar mais uma homenagem. Quando o corpo chegou, por volta das 8h, foi cercado por sanfoneiros e cantores, além de curiosos. Emocionado, Ceará fez questão de relembrar as conversas que costumava ter com o amigo. "É uma honra muito grande recebê-lo mesmo depois de morto aqui, quando ele está voltando para casa. Ele foi um amigo sincero, leal, desde que o conheci. Sinto um pouco de tristeza, lógico. Não pude dar saúde a ele, mas sempre dei muito amor, assim como os outros amigos", garante.
A irmã de Dominguinhos, Maria Conciliadora de Moraes, veio do Rio de Janeiro para acompanhar o traslado e novo sepultamento. "Agora eu estou tranquila, pois ele está indo para casa. Ao mesmo tempo fico triste, pela saudade, e emocionada por ver todo esse carinho do povo aqui do Recife com o meu irmão. Vou levar sempre comigo a alegria que ele trazia para as pessoas", conta.
O filho do cantor, Mauro Moraes, disse que era preciso atender ao desejo do pai. "Era a única coisa que a gente tinha que fazer era respeitar isso, e graças a Deus conseguimos essa vitória. Ele vai para terra dele e ser homenageado da maneira que tem que ser", afirmou.
Considerado herdeiro musical do sanfoneiro, o músico Cezzinha também acompanhou a homenagem e segue até Garanhuns. "Ele gostava de festa, é mais uma das muitas que ele merece. Ele e Luiz Gonzaga não deixam substitutos, deixam seguidores que vão continuar defendendo essa cultura", afirma Cezzinha, acrescentando que nunca vai esquecer a humildade do mestre. "Ele dava oportunidade aos mais novos".
Apaixonada pelo forró tradicional, a aposentada Diva Pereira fez questão de seguir até o restaurante na Várzea e depois vai para Garanhuns se despedir mais uma vez do músico. 'Não pude ir para o de Luiz Gonzaga, o que foi uma pena. Para mim, poder ver Dominguinhos descansar na terra dele é muita coisa", diz. Da adolescência no Sertão do Arararipe, a professora Maria do Socorro Costa carrega a lembrança dos forrós com o Rei do Baião e seu herdeiro. "A gente conhecia tudo deles, é um carinho sertanejo que tenho por Dominguinhos, por isso vim me despedir de novo", explica a professora.
Sentimento parecido tem o autônomo João Bezerra, que queria ir até Garanhuns, mas tem que seguir para o trabalho. "Só de ver o caixão, para mim é muito importante. Ele é uma verdadeira lenda para a nossa música. É uma satisfação dizer que ele é pernambucano como a gente", afirma João.
O comboio deixou a Cidade Universitária com dois ônibus de turismo, além de carros de passeio, por volta das 9h. A previsão é de que chegue a Garanhuns, no Agreste do estado, no começo da tarde desta quinta-feira.
Mais cedo, os restos mortais foram retirados do Cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife. O procedimento foi acompanhado por técnicos da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), pela filha de Dominguinhos, Liv Moraes, a ex-mulher, Guadalupe Mendonça, e alguns amigos da família.
Histórico
Dominguinhos faleceu aos 72 anos, no dia 23 de julho deste ano, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em decorrência de complicações infecciosas e cardíacas. Ele lutava havia seis anos contra um câncer. Dois dias após o falecimento, ele foi sepultado em Paulista. O local do enterro tornou-se alvo de disputa judicial envolvendo Liv e Mauro Moraes, filhos do cantor.
A sentença que autorizou a transferência do corpo de Dominguinhos saiu no último dia 29 de agosto. A decisão do Tribunal de Justiça de Pernambucox atendeu a um pedido do filho do cantor, que insistia que o desejo do pai era ser enterrado na cidade onde começou a carreira.
A decisão de ser enterrado em Paulistax foi tomada por Guadalupe Mendonça, ex-mulher de Dominguinhos, e Liv Moraes, filha dela com o sanfoneiro. Já Mauro defendia que Dominguinhos deveria ser enterrado no Rio de Janeiro, junto com a família, mas mudou de ideia ao ouvir uma entrevista em uma rádio local, na qual o cantor manifestou a vontade de ser sepultado em Garanhuns.
No dia 10 de agosto, Guadalupe e Liv se reuniram com o prefeito de Garanhunsx, Izaías Régis, para discutir a transferência do corpo. Em entrevista ao G1, o prefeito disse que expôs o plano de fazer um monumento para homenagear o cantor e a ideia de fazer um plebiscito para mudar o nome da Praça Guadalajara - onde são realizados os grandes eventos município, como o Festival de Inverno de Garanhuns - para Praça Mestre Dominguinhos
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