Pessoas deixam o cemitério após a exumação dos restos do ex-presidente João Goulart, em São Borja, Rio Grande do Sul. Foto: Jefferson Bernardes/AFP |
O novo longa-metragem do cineasta Cleonildo Cruz, Operação Condor, verdade inconclusa, começou a ser filmado na última quarta-feira (13) durante a exumação do corpo do ex-presidente João Goulart (Jango) na cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul. A equipe vai percorrer, além do Brasil, mais cinco países para desvendar as entrelinhas da história da Operação Condor, uma aliança político militar entre os vários regimes militares da América do Sul: Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai.
Depois de 18 horas filmando o processo da exumação, Cleonildo disse que o caso de Jango é o ponto de partida do longa e também referência para os outros casos que serão investigados. “Existem três processos que envolvem a morte de João Goulart: o da Comissão da Verdade, um criminal (na justiça argentina) e um cível, no Ministério Público Federal; e todos serão abordados no filme”, explicou o cineasta. “Foi um momento emocionante que a gente sente participando da história”, completou, lembrando que conversou com peritos e amigos pessoais do ex-presidente.
O próximo destino da equipe é a Argentina, onde vai ficar cerca de um mês, para vasculhar as conexões de vários países na Operação Condor, criada com o objetivo de coordenar a repressão a opositores das ditaduras e eliminar líderes de esquerda instalados nos seis países do Cone Sul.
A ideia da obra, que terá 70 minutos de duração, é esclarecer os casos que envolvem esses países. “Nosso roteiro é percorrer o Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia, entrevistando especialistas, familiares das vítimas do Condor, historiadores e vamos refazer as trilhas do que foi a operação para que deixe de ser uma história inconclusa”, explicou Cleonildo.
O historiador lembra que a Operação Condor, de acordo com pesquisas histórias, foi criada no Chile, em 1975, numa reunião convocada pela Diretora de Inteligência Nacional do Chile (DINA). O Brasil não assinou a ata de fundação mas participou ativamente da sua articulação. A partir dessa espécie de acordo da cooperação, os serviços de inteligência dos países do Cone Sul – Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai – trocavam informações entre os aparatos repressivos dos regimes militares, faziam intercâmbio de informações pelas embaixadas, realizavam operações de prissão, tortura e troca de prisioneiros. “A Comissão Nacional da Verdade já tem documentos que revelam que essa relação já existia muito antes, e no filme essa verdade será descortinada”, destaca.
A previsão para o lançamento do filme é dezembro de 2014. O cineasta e historiador já realizou outras obras como diretor, roteirista e produtor, todas com o intuito de desvendar os bastidores da história. Suas últimas produções, em 2012, foram Constituinte 1987-1988 e Haiti, 12 de janeiro.
Do Diário de Pernambuco
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