Uma das minhas meninas, com 15 anos, começou o ensino médio
este ano na área técnica que gosta: jogos digitais. Quem a viu no início do ano
correndo atrás de matérias que nunca tinha visto como programação e matemática
para jogos, não reconhece a menina que hoje senta no computador e dá origem a
jogos fantásticos com gráficos animais escritos em C++. Ela é formidável. Seu
talento é realmente impressionante não só nesta área como também na área de
desenho a mão livre que dá de mil a zero em qualquer desenho que eu tenha feito
durante a minha vida (olha que eu já me achei desenhista). Porém, apesar disso
tudo, o sistema escolar vem esmagando o seu talento e a sua autoestima. Triste.
Evidentemente na escola onde ela estuda, uma instituição
pública e federal daqui de Curitiba, existem outras disciplinas como
matemática, geografia, história, química, entre outras, assim como a sua grade
de horários é montada como sempre foram montadas todas as grades de horários de
escola de pessoas como eu você. O aluno
começa o dia tendo aula de matemática, depois aula de programação, geografia,
química e português. Nos outros dias mudam as matérias de horário e lugar, mas
basicamente é essa a “rotina” de um aluno convencional. Em um só dia ele é
forçado a mudar o seu foco de uma coisa para a outra pulando de um tema para o
outro como quem brinca de amarelinha no recreio.
Além dessa rotina frenética que faz qualquer cérebro
chacoalhar, cada professor de cada disciplina, passa exercícios para casa e
trabalhos que precisam ser entregues em alguns dias. Acontece que enquanto o
aluno tem que entregar o trabalho de química na semana que vem e também tem que
entregar o de programação, matemática para jogos e de educação física, ele
acaba entregando um trabalho mediano porque não teve tempo para se aprofundar
na tarefa. Pra passar de ano bem, tem que correr muito atrás mesmo…
Me impressiona o fato da minha menina ainda conseguir tirar
boas notas, pois quando eu estava na escola, nesta época do ano, eu estava
fazendo contas para saber de quanto precisava para não ir para a recuperação.
Olhando a situação que ela passa hoje e o que passei, vejo que boa parte das
minhas falhas estavam justamente na falta de foco com forçavam encarar cada
disciplina. Sinceramente, eu preciso de tempo para “mastigar” um conhecimento e
acredito que as outras pessoas também precisem de tempo para refletir sobre um
assunto. Este modelo de aprendizado, com certeza não é uma boa solução.
Estamos sempre
correndo atrás
Sabe aquela sensação agonizante de estarmos sempre correndo
atrás de alguma coisa? É o ônibus que já vai sair, a prova que está chegando, o
trabalho que precisa ser entregue, o salário que não chega no final do mês, a
prestação do carro que temos que pagar, etc.?Os jovens estão sendo domesticados
a estarem sempre correndo atrás sem saber para onde estão indo. Pior. Se isso
não fosse o bastante, estão sendo treinados a entregarem soluções medíocres por
causa de prazo e falta de foco.
Já perdi a conta de quantos trabalhos entregues que
receberam nota ruim porque estavam incompletos e de tantos outros trabalhos que
foram terminados mesmo sem necessidade onde ela só fez por diversão. A ESCOLA NÃO DÁ TEMPO PRA GENTE APRENDER
NADA! Esse é o ponto.
Na faculdade a agonia continua. Cada um corre por si atrás das
obrigações do seu emprego/empresa somadas com as obrigações infundadas da
faculdade onde não existe mais debate, só testes, provas, trabalhos,
apresentações, monografias e teses. No final te dão um diploma que não serve
para NADA. N-A-D-A. Você poderá arranjar um emprego com esse diploma, mas
estará sempre correndo atrás. Nunca terá a sensação de segurança que todos nós
queremos ter e que pensamos que o dinheiro traz. Mais engraçado, é que as
pessoas mai bem sucedidas são aquelas que trabalham fazendo o que amam e focam
em uma coisa de cada vez.
Para as crianças que frequentam escolas neste formato que
descrevi, não há muita coisa a ser feita além de conversar para deixar claro
que essa agitação maluca e desenfreada do mundo é uma ilusão imposta pelo sistema
para formá-las consumidoras e não criadoras. Explicar ainda que deveriam
procurar trabalhar como artistas e não como máquinas, preocupando-se em se
apaixonar por uma ideia, investir tempo pensando nela e trabalhar para criar
uma forma de expressá-la da melhor forma no mundo gerando renda para si.
Artistas, músicos e bandas de rock sempre foram vistos como anti-sistema
justamente porque se expressam da maneira como sabem se expressar e ainda geram
receita com essa auto-expressão. Por que não podemos nos expressar da maneira
que somos?
Novos modelos de
escola
Acompanho de perto o trabalho da minha cunhada e minha
esposa à frente do seu projeto de escola e fiquei encantado ao conhecer a
escola do empresário Ricardo Semler. Fico triste ao pensar que jovens que não
tenham uma boa base emocional fornecida pelos pais dentro de casa, possam
passar pela fase da infância e adolescência sendo pressionados a fazerem mais
do que podem. Provavelmente este é um dos fatores que colaboram para a baixa
autoestima e consequente descuidado com o corpo utilizando-se de grifes, álcool
e drogas para tentar parecer melhor.
Uma massa de trabalhadores é colocada no mercado de trabalho
entregando resultados medianos ou um pouco acima da média. Com diversas opções
de entretenimento e informação vamos passando pela vida deixando para trás
grandes oportunidades. Por ineficiência do sistema temos como resultado uma
sociedade com pessoas tão fora de si que infelizes trocam suas vidas para viver
a vida de outras pessoas, ocupando cargos e posições onde não possuem menor
habilidade.
Este post foi um desabafo de alguém que vê uma criança
correr triste ao invés de ficar parada e ser feliz. Que nossas crianças tenham
mais tempo para se descobrirem. Isso faz falta pra mim.
Fonte: jornaldoempreendedor.com.br
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