Se eu soubesse que era tão fácil ser
governador de Pernambuco, teria falado com Eduardo Campos quando este esteve em
Saloá em 2010. Teria puxado o então governador num recanto de parede e teria
dito, “Eduardo, me coloca pra ser governador de Pernambuco. Tô sabendo que você
tá procurando qualquer um para o cargo, não precisa ter experiência, nem capacidade
de liderança, nem estrada política nem nada é só você querer”.
No dia em que comemorava crescimento na pesquisa
Ibope, Paulo Câmara (PSB) enfrentou teste duro no debate da TV Jornal. Foi o
alvo preferencial dos dois concorrentes que dividiam a ribalta com ele: Armando
Monteiro (PTB) e Zé Gomes (PSol). Sem traquejo para embates do gênero (foi o
primeiro confronto na TV), o socialista demonstrou fragilidade nos argumentos
quanto questionado sobre temas já colocados na pauta.
Entre eles está a falta do lastro político
(apontado por Armando), de experiência, de capacidade de liderança, de trânsito
nacional, enfim, carências diretamente ligadas ao fato de ele, um técnico, ter
sido escolhido candidato por decisão pessoal do ex-governador Eduardo Campos.
Optou por repetir frases que soavam como texto decorado. As expressões
“continuar avançando”, “temos um time”, “vamos liderar esse processo”, “vamos
fazer acontecer” foram usadas em diversos momentos, reforçando a falta de
estrada apontada pelo concorrente.
O tema da concessão de incentivos à Bandeirante
Pneus foi, mais vez, colocado pelo petebista na discussão. Paulo Câmara, como
tem feito, retrucou afirmando, que tudo se deu se forma legal. Armando voltou,
então, a perguntar se o oponente sabia da condição do avião quando pegou carona
nele e qual a opinião dele sobre a nebulosidade que paira sobre a legalidade e
propriedade do jato. Paulo não respondeu. Jogou tudo na conta da Justiça
Eleitoral que, segundo ele, já decidiu que não há irregularidades.
A Bandeirante é apontada como possível compradora
do avião que era utilizado por Eduardo na campanha e que acabou caindo
provocando a morte do ex-governador e mais seis pessoas. A empresa, que já
recebia benefícios fiscais antes do governo de Eduardo, teve as vantagens
ampliadas na gestão socialista.
O discurso generalista adotado por Paulo acabou lhe
trazendo dificuldade. Quando perguntado sobre algo especifico – a falta de
consultório para o curso de odontologia da UPE em Arcoverde – foi obrigado a
admitir que existiam erros que precisam ser corrigidos.
Além disso, Paulo pareceu ter sido “capacitado”
para o debate dentro dos mesmos moldes usados pelo PSB com o prefeito do
Recife, Geraldo Julio, em 2012. Manteve um ar de riso e um olhar fixo em grande
parte do debate. Obviamente que a tensão é natural num evento como aquele, mas
o excesso de cuidados com a performance acabou por tirar a espontaneidade do
candidato.
Paulo Câmara está bem, muito bem nas pesquisas, mas
sofreu no debate. A missão é, de fato, difícil para um calouro nas ruas e nas
urnas como ele. Como Geraldo, ele é uma aposta alta assumida Eduardo – aposta,
aliás, exitosa, uma vez que o PSB ganhou a eleição. Agora, Paulo é aposta da
vez e, por enquanto, os planos traçados pelo ex-governador vão caminhando bem.
Aliás, como tem ocorrido nessa campanha, o líder
socialista, ou a lembrança dele, teve grande “presença” no debate. O candidato
do PSB repetiu por diversas ter sido “escolhido por Eduardo”, o que reforça que
o PSB, segue cultivando, sem amarras, a dependência da campanha à imagem do
ex-governador.
Armando assumiu papel professoral e mostrou a
segurança que só os anos na lida política trazem. Sempre que podia ressaltava
ser bem mais preparado para governar Pernambuco. Chegou, inclusive, a afirmar
que achava Paulo bem intencionado, mas, pela falta do tal “lastro político”,
incapacitado para a missão.
Wellington Freitas
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