O primeiro texto que divulguei
sobre as coisas de antigamente foi uma provocação às saudades enrustidas dos
queridos amigos, a ponto de despertar outras lindas recordações dos velhos
tempos.
Minha cara Norma Andrade referiu o cuscuz feito com o milho ralado por seu avô. Tinha que ser muito bom, Norma, pois era ralado na hora e o milho era chamado de “milho zarolho”, denominação dada porque o milho ainda não estava seco de tudo. Isso fazia com que o cuscuz resultante tivesse maior aroma e melhor sabor, impossível de obter com os pacotes de fubá empacotados e estocados por meses nas prateleiras dos supermercados.
O amigo e parente Chico Gueiros evoca as viagens de trem que, à época, se constituíam como acontecimentos sociais da maior importância e dava um certo relevo e orgulho a quem tinha oportunidade de fazê-las, pois não eram frequentes. Grande parte dos viajantes, quando em família, optavam em levar comida pronta para consumir durante a viagem que era prolongada e durava quase todo o dia e os demais utilizavam um vagão-refeitório, onde não faltava uma razoável comida e os líquidos para acompanhá-la.
Era um passeio rotineiro da cidade assistir as partidas e chegadas do trem. As constantes partidas de quem viajava por dever de trabalho, não causavam mais emoção mas, ao contrário, as viagens excepcionais eram acompanhadas pelas famílias com despedidas, lenço branco acenando, e familiares chorando como se estivessem partindo para o desconhecido e sem perspectivas de retorno! Da mesma forma o sentimento alegre demonstrado nas chegadas.
Meu avô, Ernesto Dourado, foi Chefe da Estação da Great Western e essa patente era reconhecida como importante na escala social da cidade tanto que, até morrer, foi chamado de “Chefe” por muitos contemporâneos seus.
Os carregadores de bagagem faziam uma instituição reconhecida como importante e tinham freguesia certa para apanhar e levar as bagagens nas residências que os tornavam muito conhecidos da população. Além dos referidos nos comentários, lembro ainda “João do Ovo” que puxava um carro grande e forte e fazia toda a sorte de transporte imitando o barulho dos carros.
O “Mudo”, carregador, viveu durante longos anos em Garanhuns, sem que ninguém soubesse o seu nome, origem e pouso certo. No fim da vida, graças à intervenção caridosa de Antonio Vaz (olha aí seu avô, Toinho Coelho) foi identificado e encaminhado a um asilo em Bom Conselho, onde morreu.
Os trens foram desde 1877, quando aqui, chegaram, foi o único meio de transporte para a Capital, escalando em dezenas de estações intermediárias. Eram também responsáveis pela movimentação de comboios carregando a enorme produção de café, cerais, algodão que existia em Garanhuns
A linha férrea foi, durante muitos anos, o único meio de locomoção para a Capital até que surgiram os primeiros ônibus regulares, chamados de “sopas” de propriedade de João Tude de Melo, até então modesto proprietário de oficina, mas que teve a visão de pioneiro pelo transporte automotivo em nossa região e tornou-se um grande empresário do setor. Só para registro da minha memória mais antiga, lembro que, muito garoto ainda, conduzi as alianças do casamento de João Tude e Carmem, filha de seu Aprígio.
E as águas das grutas de Garanhuns, formadas pelas sete colinas, como Vila Maria, São Vicente, Pau Pombo, Pau Amarelo, Serra Branca, de excelente qualidade, hoje em sua maioria poluídas e destruídas pela incúria e desídia humana. Eram distribuídas de porta a porta por carroças e lombo de burros, em latas e despejadas diretamente no potes obrigatórios existentes nas cozinhas das casas.
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