quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O SANFONEIRO, O GESTOR E A ARENA

Por Michel Zaidan Filho*



                 O cantor, compositor e sanfoneiro Alcymar Monteiro queixou-se, em carta aberta publicada nos jornais do Recife,  de que o senhor governador do Estado não estava pagando cachês devidos ao longo da programação de festas durante este ano. Não é a primeira vez que os artistas contratados pela gestão do PSB põe a boca no trombone, cobrando dívidas ao governo do estado por relevantes serviços culturais prestados ao povo pernambucano. Isso levou à crise, na gestão do deputado Silvio Costa Filho, com denúncias de superfaturamento nas notas fiscais etc.

            O sanfoneiro tem suas razões. Ele vive disso. Tira seu sustento dessas apresentações ao longo do calendário festivo do Estado. Errada está a política cultural deste governo em tratar os artistas (e não só os populares) como clientes ou funcionários da administração estatal, gerando uma relação viciada de troca de favores que permite, inclusive, não pagar os cachês prometidos por cada apresentação. O artista, com medo de perder “a boquinha” oficial, fica calado, arcando com o ônus dessas apresentações.

            Mais grave do que o modelo clientelista de gestão da cultura e da relação com os produtores culturais (que às vezes se comportam como pedintes e reivindicantes perante a gestão) é a prioridade do gasto público estabelecida pelo gestor: o que é prioritário no ordenamento de despesas, pelo governo, no Estado de Pernambuco? – A saúde? – A Educação? – A segurança pública? – O tratamento da rede de esgotos? -  O transporte público? Ou a folia, a festa, o circo? – Pois é. Para o pagamento da obra faraônica chamada de “Arena Pernambuco”, não faltou nada. Nem um centavo sequer. Pode o governo nem repassar para os times a receita prometida para compensar as bilheterias deficitárias e a ausência de público no estádio, mas as parcelas de empréstimo contraído - através de PPP-  para o pagamento da feitura da obra são religiosamente pagas, sem atraso, sem mora nem abatimento. É o caso de se perguntar: quem se beneficia dessa ordem de prioridade do dinheiro público? Quem ganha e quem perde com esse modelo perdulário e injusto de gestão?


              Num momento de crise, em que se discute inclusive a flexibilização com os gastos obrigatórios do governo federal com saúde, educação e outras rubricas, o juízo da população contra esse modelo ruinoso de escassos recursos públicos, não pode ser senão de repúdio e indignação. A uns, tudo. Ao povo, o circo – sem o pão.

*Michel Zaidan Filho é garanhuense, professor da Universidade Federal de Pernambuco, no Recife e Cientista Político com vários livros publicados. Colabora regularmente com este blog.


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