Por Michel Zaidan Filho*
O cantor, compositor e sanfoneiro Alcymar Monteiro
queixou-se, em carta aberta publicada nos jornais do Recife, de que o
senhor governador do Estado não estava pagando cachês devidos ao longo da
programação de festas durante este ano. Não é a primeira vez que os artistas
contratados pela gestão do PSB põe a boca no trombone, cobrando dívidas ao
governo do estado por relevantes serviços culturais prestados ao povo
pernambucano. Isso levou à crise, na gestão do deputado Silvio Costa Filho, com
denúncias de superfaturamento nas notas fiscais etc.
O sanfoneiro tem suas razões. Ele vive disso. Tira
seu sustento dessas apresentações ao longo do calendário festivo do Estado.
Errada está a política cultural deste governo em tratar os artistas (e não só
os populares) como clientes ou funcionários da administração estatal, gerando
uma relação viciada de troca de favores que permite, inclusive, não pagar os
cachês prometidos por cada apresentação. O artista, com medo de perder “a
boquinha” oficial, fica calado, arcando com o ônus dessas apresentações.
Mais grave do que o modelo clientelista de gestão da cultura
e da relação com os produtores culturais (que às vezes se comportam como
pedintes e reivindicantes perante a gestão) é a prioridade do gasto público estabelecida
pelo gestor: o que é prioritário no ordenamento de despesas, pelo governo, no
Estado de Pernambuco? – A saúde? – A Educação? – A segurança pública? – O
tratamento da rede de esgotos? - O transporte público? Ou a folia, a
festa, o circo? – Pois é. Para o pagamento da obra faraônica chamada de “Arena
Pernambuco”, não faltou nada. Nem um centavo sequer. Pode o governo nem
repassar para os times a receita prometida para compensar as bilheterias
deficitárias e a ausência de público no estádio, mas as parcelas de empréstimo
contraído - através de PPP- para o pagamento da feitura da obra são
religiosamente pagas, sem atraso, sem mora nem abatimento. É o caso de se
perguntar: quem se beneficia dessa ordem de prioridade do dinheiro público?
Quem ganha e quem perde com esse modelo perdulário e injusto de gestão?
Num momento de crise, em que se discute inclusive a
flexibilização com os gastos obrigatórios do governo federal com saúde,
educação e outras rubricas, o juízo da população contra esse modelo ruinoso de
escassos recursos públicos, não pode ser senão de repúdio e indignação. A uns,
tudo. Ao povo, o circo – sem o pão.
*Michel Zaidan Filho é garanhuense, professor da Universidade
Federal de Pernambuco, no Recife e Cientista Político com vários livros
publicados. Colabora regularmente com este blog.
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