domingo, 15 de janeiro de 2017

HECATOMBE DE GARANHUNS: CEM ANOS DE UMA TRAGÉDIA POLITICA.




                Um saldo de dezoito pessoas mortas foi o resultado da tragédia que ficou conhecida como “Hecatombe de Garanhuns” , e neste domingo (15), a chacina que vitimou políticos e comerciantes do município do Agreste de Pernambuco completa 100 anos., o coordenador da Comissão do Memorial Centenário da Hecatombe de Garanhuns,  professor Cláudio Gonçalves, afirma que o episódio foi uma das maiores tragédias políticas da história local e do Estado de Pernambuco.

            Em julho de 1916, quando houve eleição para prefeito de Garanhuns, O tenente-coronel Júlio Brasileiro e José da Rocha Carvalho,  disputavam a gestão municipal:, “Júlio era deputado e Dr. Rocha era apoiado pelos antigos políticos que dominavam o município, que eram os Jardins. Essa eleição foi bastante viollenta, com ameaças de surra de cipó de boi, listas negras ameaçando os adversários políticos, cruzes negras nas portas destes adversários”, detalha o professor.

        O episódio de Hecatombe ficou marcado pela série de assassinatos, que teriam sido motivados pelo resultado da eleição de 7 de janeiro de 1917. Durante a campanha política, surgiu a figura do capitão Sales Vila Nova, que apoiava Rocha Carvalho. Como opositor político, o capitão matou a tiros o então prefeito eleito, Júlio Brasileiro – que não chegou a tomar posse, pois foi assassinado no dia 14 de janeiro daquele ano, no Recife.

          As outras pessoas – aliadas de Rocha Carvalho – foram assassinadas dentro da Cadeia Pública de Garanhuns, após os correligionários de Júlio armarem uma emboscada para vingar a morte do prefeito eleito. Os documentos mostram que cerca de 18 pessoas foram mortas na unidade prisional.

Motivação da morte de Julio


        De acordo com o coordenador da Comissão do Memorial da Hecatombe, o capitão Sales Vila Nova descobriu que Júlio não poderia ser candidato à Prefeitura de Garanhuns, já que ele era deputado e não havia terminado o mandato.

“Tudo isso levou o governo do estado, por meio do governador Manuel Borba, a anular a eleição. Ele era aliado de Júlio e marcou uma nova eleição para 7 de janeiro de 1917. A oposição não participou desse processo eleitoral, já que Dr. Rocha renuncia, assim como o vice, Dr. Borba Júnior“, explica Cláudio Gonçalves.

             O professor, também  contou que antes de ocorrer essa eleição, durante o período de campanha, Júlio Brasileiro se encontrou com o capitão Sales Vila Nova no Centro de Garanhuns, onde havia a feira. Na ocasião, o tenente-coronel candidato à prefeitura ameaçou agredir Sales com cipó de boi. Este revidou a ameaça, dizendo que se fosse agredido, mataria Júlio.

“O irmão de Júlio não aceitou que a morte dele [Júlio Brasileiro] tinha sido vingança de Sales, mas achou que foi a mando dos Jardins [e dos seguidores de Rocha Carvalho], que queriam tomar a chefia política de Garanhuns”, disse o coordenador da Comissão do Memorial Centenário da Hecatombe.

         Segundo Cláudio Gonçalves, “tomada pelo ódio, a viúva de Júlio disse: ‘Não derramarei nenhuma lágrima, se as outras não derramarem. E só vestirei luto depois que as outras vestirem’. A partir disso, foi iniciada uma trama para vingar a morte do tenente-coronel”.

‘Hecatombe de Garanhuns’



             Os familiares de Júlio Brasileiro decidiram vingar a morte dele. O sobrinho da vítima, Álvaro Viana, mandou um telegrama para o irmão, Alfredo Viana, convocando ele e outros homens para irem até Garanhuns.

         Com a chegada de Alfredo no município do Agreste pernambucano, cerca de 100 homens fortemente armados se reuniram na cidade. Eles começaram a invadir as casas dos adversários de Júlio Brasileiro. “Invadiram a casa de Borba Júnior, que era candidato a vice-prefeito de Rocha Carvalho. O delegado Meira Lima chegou a tempo e impediu a morte de Borba, dizendo que ele deveria ir para a cadeia pública”, contou Cláudio.

               A trama da vingança do assassinato de Júlio reuniu familiares, o juiz Abreu e Lima e o delegado Meira Lima. A ideia era levar todos os adversários do prefeito morto para a cadeia. Eles foram convencidos de ir até o local para se proteger, conforme destacou o professor Cláudio Gonçalves.

          Vários grupos cercaram o local e começaram a atirar. “Argemiro Miranda [um dos correligionários de Rocha Carvalho] conseguiu uma arma, enviada pela esposa de Francisco Veloso [outro opositor de Júlio], e revidou os tiros. Ele tentou escapar, mas morreu na porta da cadeia, que estava cercada”, destaca Cláudio.



            Na ocasião, morreram 18 pessoas. Entre elas, sete políticos e um jovem que havia ido visitar o tio na cadeia. O nome “Hecatombe de Garanhuns” surgiu porque uma senhora – após perceber que haveria uma chacina – enviou um telegrama para o comandante da polícia, no Recife, com a frase “Enviar forças urgente, haverá uma hecatombe”.

Hecatombe que é um termo grego que significa sacrifício de 100 bois ou massacre de um grande número de pessoas. “Os jornais locais começavam a falar do ‘sucesso de Garanhuns’, que era [o mesmo que] chacina. Mas, após o telegrama [do pedido de ajuda] ser publicado, começaram a chamar e episódio de hecatombe”, explica o professor.

Julgamento da chacina e novo prefeito

            O julgamento da Hecatombe de Garanhuns teve início no dia 27 de setembro de 1918. A última sessão para a sentença ocorreu em 19 de novembro de 1918. O capitão Eutíquio da Silva Brasileiro – irmão de Júlio – foi condenado a 30 anos de prisão; Álvaro Brasileiro Viana – primo do prefeito assassinado – foi absolvido unanimemente; Alfredo Brasileiro Viana – também primo de Júlio, foi condenado a 30 anos de prisão; o delegado Meira Lima foi condenado a perder o emprego.

                     Quem assumiu a prefeitura de Garanhuns naquele ano foi Joaquim Alves Barreto Coelho, que era Presidente do Conselheiro Municipal. O vice de Júlio Brasileiro, o capitão Thomaz Maia, não assumiu porque foi preso acusado de fornecer querosene para incendiar as casas comerciais das vítimas após a Hecatombe.

Livro sobre testemunha da tragédia



           O maestro francês Fernand Jouteux se mudou para o Brasil em busca de inspiração, como afirma o escritor Ígor Cardoso, autor do livro “Fernand Jouteux – O maestro de chapéu de couro”. O músico morou durante 35 anos em Garanhuns e se baseou no livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, para escrever uma das suas maiores obras.

“A grande obra da vida dele foi uma ópera chamada “O Sertão”, composta na fazenda “Belle Alliance” e inspirada na nossa cultura, em Canudos e em Antônio Conselheiro. Acabou se radicando na cidade por ser perto do Sertão”, conta Ígor.

                Fernand era um grande amigo do cônego Benigno Lira, um dos personagens centrais da hecatombe. Lira era erudito, poeta e gostava de música clássica e também chegou a colocar letra em uma de suas partituras. Além de vir de uma importante família de Alagoas e Pernambuco, dona de usineiras.




“Ele [Lira] tem participação em todos os eventos. Apoiou a estratégia da viúva e ao mesmo tempo convenceu os políticos a se recolherem na cadeia”, revela.

            O maestro tentou ser fazendeiro, mas logo depois do desastre da hecatombe, o pai dele morreu na França, e ele voltou ao país de origem. Também não conseguiu o apoio que queria para montar a ópera.

“Ele chega a compor uma valsa, a ‘Bela Aliança’, onde cita nominalmente as amarguras que tem passado e fala sobre a hecatombe, o grande motivo de ter desistido de ser fazendeiro e de viver em Garanhuns. Fernand volta para a França, passa um tempo e não fica feliz. Retorna para o Brasil, vai morar novamente em Garanhuns e encontra um cenário diferente”, completa o escritor.



           O livro “Fernand Jouteux – O maestro de chapéu de couro” foi lançado no dia 25 de julho de 2015, no Instituto Histórico Geográfico e Cultural de Garanhuns (IHGCG), durante o Festival de Inverno.



          Uma série de eventos foram formatados, pelo IHGCG e Caminhantes do Parque Euclides Dourado, sob a direção do empresário guerreiro, Walter Santanna, para registrar a data, não como violência socializada, mas sim como um outro tempo a ser vivido sem ódio e rancor.



         Um alegre grupo saiu do Parque em direção ao local onde ocorreu a tragédia, há cem anos passados, que hoje dá lugar a COMPESA- Companhia de Saneamento de Pernambuco.


                 O grupo foi recebido pela Orquestra Municipal que tocou um louvor “ Segura na Mão de Deus”, seguido do Hino de Garanhuns que traz letra e Música do Poeta João Marques.


               Para recepcionar familiares das vitimas, autoridades e representantes de várias Instituições e o povo em geral, Dra Ivonete Xavier, Professor Claudio Gonçalves, gerente da COMPESA e o Prefeito em Exercício, Haroldo Vicente, ministraram palavras de sabedoria onde a paz e o perdão estavam em evidencia.

          Após a inauguração da placa alusiva à data e entrega de comenda às autoridades empenhadas em preservação de nossa história, duas mudas de árvores foram plantadas; Uma registrando o sangrento fato, outra com representação à vida, ao perdão e recomeço.



             A jornalista Selma Mello foi convidada a plantar a muda da árvore que simboliza a vida, exatamente quando registramos cinco meses da morte de seu filho primogênito, Thyago Phyllip. Emocionada, agradeceu o convite a Walter Santanna pelo gesto tão significativo para ela, enquanto emocionou os presentes:

Há cinco meses atrás eu enterrava meu amado filho...Hoje eu planto uma muda que, regada e cultivada, florescerá...Trará  sombra, paz e vida... Vida com abundância...


            Após o ato, um delicioso café da manhã foi servido aos presentes, antes da celebração de um culto evangélico, realizado na Igreja Presbiteriana.

               A noite, e dando fim  ao registro histórico, uma Missa será celebrada na Igreja de Santo Antonio, centro da cidade.








    com informações (G1 Caruaru e Região)



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