No rosto, o sorriso é de menina. Ora encabulado, ora escape
para o nervosismo. Ombros contraídos, de quem não faz qualquer questão de
esconder a timidez. Da fala mansa, com o sotaque carregado de quem viveu os 18
anos da vida no Agreste pernambucano, as palavras são convictas: “Quero ir
longe”. Nova promessa do atletismo pernambucano, Denise Ferreira é a única
esportista do estado classificada para o Sul-Americano Sub-20, previsto para os
dias 3 e 4 de junho, na cidade de Georgetown, na Guiana. Diz-se pronta para
vencer a corrida da vida.
Há três meses morando no Recife, a garanhuense ainda está se
adaptando à nova cidade. “É muito quente aqui. Ainda morro de saudade de casa”,
não esconde. Denise veio para a capital pernambucana por duas razões: pela
estrutura do Centro Esportivo Santos Dumont e para estudar. Divide as pistas
com os livros, após ganhar do Programa Bolsa Atleta a oportunidade de cursar
Enfermagem. “Estou conseguindo unir o útil ao agradável. Sempre fui certinha
nas minhas coisas, gosto de estudar. Em casa era assim, da escola para o
treino, do treino para a escola. E aqui eu continuo com a faculdade agora. É
uma rotina pesada, mas estou gostando, a estrutura é aqui é melhor. Estou
feliz”, afirmou.
Denise conquistou há duas semanas as medalhas de bronze
(5000m) e ouro (3000m), no Campeonato Brasileiro Sub-20, em São Paulo. A
conquista a lançou para um novo patamar, classificando-a para a disputa
continental. “Na hora dá um nervosismo, uma ansiedade danada. Mas eu estava
preparada. Estou preparada! Confiante, segura de mim. Agora a expectativa é
seguir treinando muito para ir bem lá fora”, disse.
Pés descalços
O caminho até o Recife, porém, foi muito além dos 230
quilômetros que separam a capital de Garanhuns. Sem o apoio inicial dos pais,
Denise começou a treinar descalça, aos 11 anos. Pés no chão de terra batida e
no cimento das estradas. Sem pista de atletismo na cidade natal, o palco dos
treinamentos era a rua. “Passei mais de um ano assim. Tanto que quando ganhei
meu primeiro par de tênis, eu achei foi estranho. Preferia treinar descalça
mesmo. Já hoje, não tem como mais. Tem que ser calçada”, fala sorrindo ao
recordar o começo difícil.
E foi ainda descalça que a pernambucana conseguiu as
primeiras conquistas da carreira. “Fui campeão dos Jogos Escolares de
Pernambuco com 11 anos aqui no Recife. Depois, fui para Fortaleza para o
Brasileiro com 12 anos e fique com a prata. Tudo isso descalça. Não tinha
ninguém que chegasse nem para emprestar”, contou. “Só então meu pai disse ‘é,
essa menina tem talento’ e me deu o tênis”, recorda, sem se queixar do passado.
“A gente nunca foi rico, mas também nunca faltou nada, graças a Deus”, pontuou
Denise, filha de um pinto e uma dona de casa, que hoje divide o apartamento com
outras atletas e vive das premiações que conquista com as corridas. A
expectativa é que ela passe a receber uma bolsa de ajuda do Governo do Estado a
partir de junho.
Evolução
Integrante do Projeto Atletismo Campeão, comandado pelo
professor Abraão Nascimento, Denise Ferreira ainda está em processo de
aprimoramento físico. Segundo o treinador, um processo que tende a ser longo e
gradual. “Ela é diferenciada, mas ainda estamos preparando o terreno… É o
primeiro ano dela aqui, é um ano de adaptação, mas vale a pena o investimento e
vou fazer isso com ela. Denise é muito nova, vai evoluir muito. Precisa
emagrecer uns dois quilos, perder uns vícios nos braços. Isso é com o tempo,
ela vai crescer”, afirmou.
Com informações do www.superesportes.com.br
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