A ex-escrava sexual do grupo
extremista Estado Islâmico Nadia Murad e o médico ginecologista Denis Mukwege
ganharam o Prêmio Nobel da Paz 2018 por seus esforços para acabar com o uso da
violência sexual como arma de guerra e conflito armado. O anúncio dos vencedores
foi feito na manhã desta sexta-feira (5), em Oslo, na Noruega.
Denis Mukwege, de 63 anos, passou
grande parte de sua vida adulta ajudando as vítimas de violência sexual
na República
Democrática do Congo, na África, e lutando por seus direitos. Ele e sua
equipe trataram cerca de 30 mil vítimas desses ataques, desenvolvendo grande
experiência no tratamento de lesões sexuais graves.
Conhecido como "doutor milagre",
ele é um crítico feroz do abuso de mulheres durante guerras e descreveu o
estupro como uma "arma de destruição em massa".
“Posso ver nas faces de muitas mulheres como estão felizes de
serem reconhecidas", afirmou Mukwege, que estava em cirurgia quando soube
que tinha ganhado o prêmio.
"O princípio básico de Denis Mukwege é que 'a justiça é
da conta de todo mundo'. O Prêmio Nobel 2018 é o símbolo mais importante e
unificador, tanto nacional como internacionalmente, da luta para acabar com a
violência sexual na guerra e nos conflitos armados", diz a organização no
tuíte acima.
Financiado pela Unicef e outros
doadores, Mukwege montou um hospital com 350 leitos, uma unidade de atendimento
móvel e um sistema para oferecer microcrédito para as vítimas reconstruírem sua
vida.
Nadia Murad, de 25 anos, se tornou
uma ativista dos direitos humanos da
minoria yazidi após sobreviver a três meses de escravidão sexual
imposta por integrantes do EI no Iraque.
Após escapar dos terroristas, em 2014, ela liderou uma
campanha para impedir o tráfico de seres humanos e libertar o grupo étnico-religioso
yazidis, que é composto por cerca de 400 mil pessoas. As crenças desse grupo
misturam componentes de várias religiões antigas do Oriente Médio. A etnia é
considerada "infiel" pelos extremistas do EI.
Estima-se que 3 mil garotas e
mulheres yazidis foram vítimas de estupro e outros abusos por parte dos
extremistas no Iraque. A violência sexual foi sistemática e fazia parte de uma
estratégia militar empregada pelos terroristas contra minorias religiosas.
Em 2016, ela foi nomeada embaixadora
da Boa Vontade da ONU para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico Humano.
Mulheres usadas como armas de guerra
A presidente do comitê norueguês do
Nobel, Berit Reiss-Andersen, afirmou que edição deste ano do Nobel pretende
enviar a mensagem de que “as mulheres, que constituem a metade da população,
são usadas como armas de guerra e precisam de proteção; e que os responsáveis
devem ser responsabilizados e processados por suas ações”.
O comitê recebeu neste ano a nomeação
de 216 indivíduos e 115 organizações. Somente algumas dezenas deles são
conhecidos. O comitê mantém a lista em segredo há 50 anos.
O prêmio é de 9 milhões de coroas
suecas (cerca de 1 milhão de dólares) e será entregue numa cerimônia em Oslo em
10 de dezembro. Criada pelo industrial sueco Alfred Nobel, o inventor da
dinamite, a premiação foi concedida pela primeira vez em 1901.
Veja os vencendores de 2018
Química: Frances
H. Arnold, George P. Smith e Sir Gregory P. Winterforam premiados por
desenvolverem técnicas que permitem a fabricação de combustíveis verdes e de
anticorpos mais eficientes.
Física: Arthur
Ashkin, Gérard Mourou e Donna Strickland foram os ganhadores por
descobertas sobre laser. O prêmio de Física foi pela primeira vez em 55 anos
entregue a uma mulher.
Medicina: James P. Allison e Tasuku Honjo foram premiados
por uma pesquisa sobre imunoterapia
contra o câncer.
O ganhador na categoria Economia será conhecido na
segunda-feira (8). O prêmio em Literatura foi adiado para 2019 depois de
uma acusação
contra o marido de uma de suas integrantes. Ele foi
condenado esse ano por cometer abusos sexuais e vazar o nome de vários
ganhadores do prestigiado prêmio.
Últimos ganhadores do Nobel da Paz
2017: A Campanha
Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican, sua sigla em
inglês) foi premiada por chamar a atenção para as consequências catastróficas
do uso de armas nucleares e pelos seus esforços inovadores para conseguir a
proibição do uso dessas armas.
2016: Juan
Manuel Santos, então presidente da Colômbia, conquistou o prêmio pelo
esforço de pacificação do país. Naquele ano, o governo conseguiu fechar um
acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) após uma
guerra civil que já durava mais de 50 anos.
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