O ministro do STJ (Superior Tribunal
de Justiça) Mauro Campbell determinou que o inquérito que investiga o
governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e o prefeito do Recife, Geraldo
Júlio (PSB), por supostas fraudes e superfaturamento na construção do Estádio
Arena de Pernambuco seja remetido para a Justiça estadual.
Na decisão, de 12 de novembro, o
magistrado ordena que os autos sejam encaminhados à Vara de Crimes contra a
Administração Pública e Ordem Tributária da comarca do Recife. As novas diligências,
a exemplo de casos anteriores, deveriam ser realizadas pela Decasp (Delegacia
de Crimes contra a Administração e Serviços Públicos).
Mas o órgão, da Polícia Civil de
Pernambuco, foi extinto pela Assembleia Legislativa no início deste mês, a
partir de projeto de lei que tramitou em regime de urgência, enviado pelo
governador Paulo Câmara. A PF confirmou que, como o inquérito foi remetido para
a Justiça de Pernambuco, novas investigações devem ser conduzidas pela Polícia
Civil.
A delegada Patrícia Domingos, que
investigava sete deputados, um vereador e empresários ligados ao PSB, havia
sido removida para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa
(DHPP). Ela tinha retornado à Decasp nesta segunda-feira (19), após
liminar da Justiça que ordenou a retomada dos trabalhos por 45 dias para que as
investigações em andamento fossem concluídas.
No entanto, na tarde desta
quarta-feira (21), o presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Adalberto
de Oliveira Melo, acolheu pedido do governo e derrubou a decisão. A lei que
extinguiu a Decasp e criou o Departamento de Combate ao Crime Organizado
(Draco) foi aprovada no dia 31 de outubro por 30 votos a favor e 6 contrários.
A Polícia Civil diz que, com a lei
aprovada, haverá fortalecimento nas investigações. Ao contrário do
posicionamento de várias entidades, incluindo OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) e Adepp (Associacão dos Delegados de Polícia de Pernambuco), o governo
assegura que a mudança vai reforçar investigações dos casos de corrupção e que
nenhum procedimento em andamento será encerrado.
Além de Paulo Câmara e Geraldo Júlio,
são investigados no mesmo procedimento o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB)
e o deputado federal Tadeu Alencar (PSB). A Operação Fair Play da Polícia
Federal apontou, em 2015, superfaturamento de R$ 42,8 milhões na construção do
estádio pela Odebrecht.
De acordo com o Tribunal de Contas do
Estado (TCE), esse valor é ainda maior, chegaria a R$ 70 milhões. As
investigações indicam suspeitas de recebimento de propina para financiamento de
campanhas políticas. Os investigados integravam o Comitê Gestor de Parcerias
Público-Privadas de Pernambuco na gestão do ex-governador Eduardo Campos, morto
em acidente aéreo em agosto de 2014. Por meio da Secretaria de Imprensa, o Governo
de Pernambuco comunicou que não vai se pronunciar sobre a mudança.
Após as investigações da PF, Paulo
Câmara, Geraldo Júlio e Tadeu Alencar assinaram nota conjunta alegando que a
licitação da Arena Pernambuco, ocorrida em 2009, observou todos os requisitos,
prazos e exigências da Lei de Concessões e da Lei de Parcerias
Público-Privadas. O senador Fernando Bezerra Coelho, que fica no cargo até
2022, segundo apurou a reportagem, também nega qualquer tipo de irregularidade.
O ministro Mauro Campbell ressaltou
que a decisão foi proferida porque os possíveis crimes investigados teriam
ocorrido, em tese, no período em que Câmara exercia o cargo de Secretário de
Estado de Pernambuco. “Razão pela qual deve haver o declínio de competência
[envio à Justiça estadual]”, destacou.
A remessa dos autos para a Justiça de
Pernambuco é consequência da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que, em
maio deste ano, determinou que o foro por prerrogativa de função aplica-se
apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às
funções desempenhadas.
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