No sítio Mulungu, distrito da cidade
de Sanharó, no Agreste de Pernambuco, Marco Antônio cresceu vendo a agricultura
como o destino de quase todos os moradores do local. A falta de dinheiro e a
vontade de ajudar a família, no entanto, o fez seguir outro caminho. De olho no
Bolsa Atleta - programa do Governo Federal, que garante patrocínio para atletas
de alto rendimento -, ele iniciou os treinos no Atletismo. Estudante do
Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), viu na corrida a esperança de mudar.
Não deu certo. Ficou em quarto na seletiva e longe do benefício. Foi quando um
treinador transformou a vida de Marco Antônio. De olho no 1,92m do garoto,
André Cardoso observou, naquele rapaz franzino, o biótipo perfeito para outra
modalidade: o salto em altura.
- Marco apareceu lá no Instituto onde
temos um projeto. Chegou para ser avaliado numa prova de velocidade. Foi quando
vi aquele camarada correndo com aquela estatura. Ele saiu, fez a corrida dele.
Depois chamei ele e falei: "Rapaz, você se identifica em outra prova. Quer
tentar fazer outro tipo de prova, não?" Aí ele foi de acordo e disse que
queria. Disse que iria apresentar uma amiga professora e Marquinho foi
apresentado a Glébia, que agora dá todo suporte para ele no salto em altura e
faz alguns trabalhos comigo, dois dias na semana, no Instituto Federal.
O começo dos treinos tinha ar de
brincadeira. Quem olhasse de longe dificilmente apostaria no sucesso de Marco
Antônio. Ao lado dos primos, Alef Kaique e Isaque Barbosa, responsáveis por
segurarem a corda para os saltos, passou a usar o campo de futebol do sítio
Mulungu para iniciar a preparação. Mesmo com todas as dificuldades, a aposta
deu certo. Logo na primeira competição, campeão da etapa regional dos Jogos
Escolares, em Buíque. Não parou por aí. Com menos de dois anos de treino, foi
campeão pernambucano adulto e sub-20, saiu da marca de 1,60m para 1,97m.
Evolução que fez com que a treinadora se rendesse ao talento do garoto.
- Na primeira competição, ele foi
para 1,97m. Então foi uma evolução muito rápida. O que seria em um ano foi em
meses. Ele tem um potencial imenso. Tem condições de ser o melhor do Brasil,
até porque tem 18 anos.
Os bons resultados no cenário
estadual fizeram com que Marco tivesse vaga para a fase nacional dos Jogos
Escolares. Na semana do evento, que ocorreu em São Paulo, uma notícia o fez
perder o rumo: o falecimento do pai.
- Foi a pior sensação da minha vida.
Sem querer ser mais do que sou, iria para a competição para ser campeão. Estava
muito bem e focado, mas não tive mais condição. Tinha falado com meu pai
minutos antes, saí de casa e me ligaram falando que meu pai tinha morrido.
Mesmo assim eu competi, mas cheguei em 10º. Não foi o que eu posso fazer, mas
naquele momento quase nem estava ali.
O péssimo resultado na competição
nacional não tirou de Marco a certeza de que lutará por uma vaga nos Jogos
Olímpicos de Tóquio, em 2020. Mas olhando a melhor marca do Brasil, 2,30m,
cravada por Talles Silva, Marco Antônio acredita que pode superar e se apega à
evolução vista nos treinamentos.
"A minha ideia não é ser mais um saltador. Eu quero ser
o melhor do Brasil e tentar ser um dos melhores do mundo. Sei que tenho muito o
que evoluir, mas estou determinado a conseguir isso."
A esperança do atleta é um reflexo do
que pensa a treinadora Glébia Galvão. Responsável por garimpar talentos no
interior pernambucano, ela vê em Marco o perfil de um futuro campeão.
- O diferencial de Marco é que ele é
focado. Digo a ele que eu o vejo em Tóquio, em 2020. Seleção brasileira. Dá
tempo? Com certeza. Tem dois anos ainda. Dois anos para ele igualar o melhor do
Brasil. Ele tem potencial para isso.
https://globoesporte.globo.com/pe/noticia/do-sitio-mulungu-para-toquio-2020-saltador-supera-dificuldades-por-sonho-olimpico.ghtml?fbclid=IwAR0_mbygfzBuWNDFbR4eyXSFoLpV5nxKf0Wnh-J_j8lc3pE9szYVRaA5H6k
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