domingo, 1 de dezembro de 2019

HÁ 64 ANOS ATRÁS ROSA PARKS COMEÇAVA O FIM DA SEGREGAÇÃO RACIAL AMERICANA



                       Em 1º de dezembro de 1955, essa discriminação foi posta em xeque por uma costureira negra de 42 anos. Cansada e com dores nos pés depois de um dia de trabalho, Rosa ­Par­ks se recusou a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco.

               Na década de 1950, nos estados Americanos do Sul, como o Alabama, os negros eram considerados cidadãos de segunda classe. Não podiam votar, eram proibidos de entrar em alguns clubes, lojas e igrejas e, no transporte público, tinham que dar preferência aos brancos não podendo sentar, ou mesmo teria que descer para dar lugar aos brancos.

                 "Eu não imaginava que ficaria envolvida até o pescoço no Movimento Pelos Direitos Civis e muito menos que meu ato naquele dia teria um impacto tão grande. Mas já ansiava e lutava por mudanças há muito tempo",  "Vivíamos uma segregação racial legalizada e andávamos de cabeça baixa. Os brancos pensavam que eram superiores e não houve um único dia em que eu não tenha me sentido humilhada. Hoje, temos os mesmos direitos que eles. Mas ainda há muita desigualdade e injustiça. O caminho é longo" confessou Rosa Parks em entrevista à AH concedida dias antes de falecer, em 2005. 


                       Ao anoitecer do dia 1 de dezembro de 1955, Parks entrou em um ônibus na avenida Cleveland, no centro da cidade de Montgomery. Ela pagou a passagem e se sentou na primeira fileira de assentos reservados para negros no veículo. O motorista, James F. Blake, seguiu viagem em sua rota tradicional. O ônibus ia enchendo até que na terceira parada, em frente ao teatro Empire, vários passageiros entraram. Blake notou que umas duas ou três pessoas brancas estavam em pé. Para resolver o problema ele mudou o sinal de "colored" ("pessoa de cor", termo usado nos Estados Unidos para se referir a afro-americanos) para atrás da fileira onde Parks estava. Ele exigiu que os passageiros negros sentados levantassem para que os brancos pudessem sentar. Enquanto os outros três negros levantaram, Rosa se recusou. Anos depois, em uma entrevista, ela recordou: "meu corpo foi tomado por uma determinação, como uma colcha numa noite de frio". Parks se moveu, mas para o assento da janela. Blake, o motorista, perguntou para ela: "Por que você não se levanta?" Ela respondeu que "Eu não deveria ter que me levantar". O homem chamou então a polícia e mandou prender Rosa Parks. Quando o policial chegou ela perguntou "Por que vocês mexem com a gente assim?" Ele respondeu: "Eu não sei, mas a lei é a lei e você está presa."


                     Parks foi acusada de violar o capítulo 6, seção 11, da lei de segregação do código da cidade de Montgomery, apesar dela tecnicamente não ter sentado em um assento reservado para brancos. Edgar Nixon, presidente da sede local do NAACP, e seu amigo Clifford Durr pagaram a fiança de Parks e ela deixou a cadeia no dia seguinte.

                     Nixon, Jo Ann Robinson e outros ativistas de direitos civis decidiram usar o caso de Parks para chamar atenção do público para a causa de encerrar a segregação racial nos Estados Unidos. Três dias depois do evento, a 4 de dezembro, foi convocado um boicote aos ônibus de Montgomery. Nos eventos que se seguiram, alguns líderes religiosos e ativistas se destacaram, como os reverendos Ralph Abernathy e Martin Luther King, Jr.. Os mais de 40 mil usuários negros de ônibus da cidade e arredores prosseguiram com o boicote por 381 dias. Em 1956, a Suprema Corte americana julgou inconstitucional a segregação racial em transportes públicos.

                    Rosa Parks, em meados da década de 1990, recebendo uma comendação do então presidente americano Bill Clinton.

                   Rosa Parks se tornou então um ícone do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos mas isso não foi necessariamente bom para ela no curto prazo. Sanções eram feitas contra os ativistas dos direitos civis e ela teve dificuldade em conseguir emprego e ainda teve de enfrentar a animosidade da cidade. Sofrendo ameaças de morte por parte de grupos de supremacia branca, ela se mudou para HamptonVirgínia. Ela se mudou novamente não muito mais tarde para Detroit. Apesar desta cidade ser mais progressista que as do sul, Rosa ainda teve que lidar com racismo e segregação. Ela recebeu apoio e manteve contato com lideranças dos movimentos civis, como o congressista John Conyers e o reverendo Martin Luther King. Ela continuou, nos anos 60, como uma ativista dos direitos dos negros e participou de diversas iniciativas e marchas pela igualdade.

            Em 1992 ela publicou sua autobiografia, Rosa Parks: My Story. Viúva e com enormes dificuldades financeiras, em 2002, ela foi despejada de seu prédio. A igreja batista Hartford Memorial a ajudou e, devido a comoção nacional por sua situação, o banco resolveu perdoar sua dívida e ela viveria de graça no seu prédio pelo resto da vida.

         Acometida de doenças mentais e saúde muito debilitada, seus últimos dias foram sofridos mas ela sempre lembrava em boa estima os feitos de sua vida. Rosa faleceu em seu apartamento, em Detroit, a 24 de outubro de 2005, de causas naturais. Seu caixão foi velado com honras da Guarda Nacional do estado de Michigan. Autoridades e antigas lideranças dos movimentos civis compareceram ao seu funeral.

              


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