Em 1º de dezembro de 1955, essa discriminação foi posta em xeque por uma costureira negra de 42 anos. Cansada e com dores nos pés depois de um dia de trabalho, Rosa Parks se recusou a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco.
Na década de 1950, nos estados Americanos do Sul, como o
Alabama, os negros eram considerados cidadãos de segunda classe. Não podiam
votar, eram proibidos de entrar em alguns clubes, lojas e igrejas e, no
transporte público, tinham que dar preferência aos brancos não podendo sentar,
ou mesmo teria que descer para dar lugar aos brancos.
"Eu
não imaginava que ficaria envolvida até o pescoço no Movimento Pelos Direitos
Civis e muito menos que meu ato naquele dia teria um impacto tão grande. Mas já
ansiava e lutava por mudanças há muito tempo", "Vivíamos uma segregação racial legalizada e andávamos de cabeça baixa. Os brancos pensavam que eram superiores e não houve um único dia em que eu não tenha me sentido humilhada. Hoje, temos os mesmos direitos que eles. Mas ainda há muita desigualdade e injustiça. O caminho é longo" confessou Rosa Parks em
entrevista à AH concedida dias antes de falecer, em 2005.
Ao
anoitecer do dia 1 de dezembro de 1955, Parks entrou em um ônibus na avenida
Cleveland, no centro da cidade de Montgomery. Ela pagou a passagem e se sentou
na primeira fileira de assentos reservados para negros no veículo. O motorista,
James F. Blake, seguiu viagem em sua rota tradicional. O ônibus ia enchendo até
que na terceira parada, em frente ao teatro Empire, vários passageiros
entraram. Blake notou que umas duas ou três pessoas brancas estavam em pé. Para
resolver o problema ele mudou o sinal de "colored" ("pessoa de
cor", termo usado nos Estados Unidos para se referir a afro-americanos)
para atrás da fileira onde Parks estava. Ele exigiu que os passageiros negros
sentados levantassem para que os brancos pudessem sentar. Enquanto os outros
três negros levantaram, Rosa se recusou. Anos depois, em uma entrevista, ela
recordou: "meu corpo foi tomado por uma determinação, como uma colcha numa
noite de frio". Parks se moveu, mas para o assento da janela. Blake,
o motorista, perguntou para ela: "Por que você não se levanta?" Ela
respondeu que "Eu não deveria ter que me levantar". O homem chamou
então a polícia e mandou prender Rosa Parks. Quando o policial chegou ela
perguntou "Por que vocês mexem com a gente assim?" Ele respondeu:
"Eu não sei, mas a lei é a lei e você está presa."
Parks
foi acusada de violar o capítulo 6, seção 11, da lei de segregação do código da
cidade de Montgomery, apesar dela tecnicamente não ter sentado em um
assento reservado para brancos. Edgar Nixon, presidente da sede
local do NAACP,
e seu amigo Clifford Durr pagaram a
fiança de Parks e ela deixou a cadeia no dia seguinte.
Nixon,
Jo Ann Robinson e outros ativistas de direitos civis decidiram usar o caso de
Parks para chamar atenção do público para a causa de encerrar a segregação racial nos Estados
Unidos. Três dias depois do evento, a 4 de dezembro, foi convocado um boicote aos ônibus de Montgomery. Nos
eventos que se seguiram, alguns líderes religiosos e ativistas se destacaram,
como os reverendos Ralph Abernathy e Martin Luther King, Jr.. Os mais de 40 mil
usuários negros de ônibus da cidade e arredores prosseguiram com o boicote por
381 dias. Em 1956, a Suprema Corte americana
julgou inconstitucional a segregação racial em transportes públicos.
Rosa Parks, em meados da década de 1990, recebendo uma
comendação do então presidente americano Bill Clinton.
Rosa Parks se tornou então um ícone do movimento
dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos mas isso não foi
necessariamente bom para ela no curto prazo. Sanções eram feitas contra os
ativistas dos direitos civis e ela teve dificuldade em conseguir emprego e
ainda teve de enfrentar a animosidade da cidade. Sofrendo ameaças de morte por
parte de grupos de supremacia branca, ela se mudou para Hampton, Virgínia.
Ela se mudou novamente não muito mais tarde para Detroit. Apesar
desta cidade ser mais progressista que as do sul, Rosa ainda teve que lidar com
racismo e segregação. Ela recebeu apoio e manteve contato com lideranças dos
movimentos civis, como o congressista John Conyers e o reverendo
Martin Luther King. Ela continuou, nos anos 60, como uma ativista dos direitos
dos negros e participou de diversas iniciativas e marchas pela igualdade.
Em 1992 ela publicou sua autobiografia, Rosa Parks: My
Story. Viúva e com enormes dificuldades financeiras, em 2002, ela foi despejada
de seu prédio. A igreja batista Hartford Memorial a ajudou e, devido a comoção
nacional por sua situação, o banco resolveu perdoar sua dívida e ela viveria de
graça no seu prédio pelo resto da vida.
Acometida de doenças mentais e saúde muito debilitada, seus
últimos dias foram sofridos mas ela sempre lembrava em boa estima os feitos de
sua vida. Rosa faleceu em seu apartamento, em Detroit, a 24 de outubro de 2005,
de causas naturais. Seu caixão foi velado com honras da Guarda Nacional do estado
de Michigan.
Autoridades e antigas lideranças dos movimentos civis compareceram ao seu
funeral.
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