Ação para chamar atenção para o Tráfico de pessoas e Escravidão causa impacto
ONG choca com “traficante de mulheres” que usa caminhão transparente
A proposta do movimento que a ONG End It sustenta
é eliminar um problema que a gente, infelizmente, já se acostumou a ver
mas finge que não. Ignorando estatísticas e mantendo nossa rotina,
seguimos a vida sem atentar que, apesar de já estarmos em 2013, a
escravidão – termo aparentemente esquecido nos antigos livros de
história do colégio – ainda existe e está cada vez mais forte e “invisível”
aos olhos daqueles que não querem enxergar o problema. Nas entrelinhas,
todos nós temos uma parcela desta culpa. Afinal, ignoramos e achamos
que isso nem sequer acontece mais.
Para provar o contrário e mostrar que a escravidão não é algo do passado
é importante registrar que, hoje em dia, temos mais escravos pelo mundo
do que antigamente. Desta forma, os criativos apelaram por uma “mídia”
um tanto quanto surpreendente: um caminhão com laterias transparentes. A
ideia é simples. Afinal, como se pode atingir um público que apesar de
já saber do problema, o ignora? “Simples”. Vá de encontro até onde a
confortável visão desta audiência se encontra e, sem delongas, escancare
o problema de uma só vez.
Caminhando na rua, conversando com amigos, indo ao cinema com a namorada
ou estressado por estar preso no trânsito, o público não teve escolha: o
caminhão impressionou todos aqueles que cruzaram com a verdadeira jaula
humana – em Atlanta, nos EUA; dê o play:
Esta ação representa, infelizmente, apenas um dos tipos de escravização
que a ONG tenta denunciar mundo a fora. No caso, a escravização sexual. A
forma de destacar isso, de forma barata e totalmente coerente foi, na
minha opinião, fantástica. Os criativos usaram o caminhão como mídia e
se locomoveram pela cidade numa espécie de outdoor ambulante.
A prova da eficácia está na resposta à seguinte pergunta: quem não iria
se afetar se, durante uma caminhada de fim de tarde, se deparasse com um
caminhão cheio de mulheres sendo destratadas, agredidas e transportadas
para praticarem algo para o que estão sendo obrigadas? É de se esperar
que isso cause, no mínimo, um momento de reflexão. Também é bem possível
que, em um outro automóvel qualquer, próximo do local da ação que
apenas ilustra uma situação, esteja acontecendo a coisa real. Parece
impossível, mas esta realidade se repete muito frequentemente.
A ação, de uma forma escancarada, trás à tona uma verdade que insistimos
em ignorar. No fim do filme, o provocativo questionamento que fecha a
imagem me fez pensar em uma questão interessante: porque é que, apesar
de já sabermos que isso ocorre, deixamos isso se repetir? Partindo do
princípio que sabemos, mas não queremos enxergar, se tudo isso fosse
visível, será que a gente realmente faria alguma coisa?
“Hoje em dia existem mais escravos do que em qualquer período da nossa história.”
Admito que me assusta muito a ideia de que a gente dependa de
iniciativas como esta para trazer um assunto tão urgente para o centro
das discussões. Na ação em questão, que trata especificamente da
escravização sexual de mulheres, é válido lembrar que este é um dos
temas mais difíceis a ser enfrentado uma vez que ele, de alguma forma,
está blindado por uma cultura altamente machista, que não se
resume apenas no aspecto da prostituição em si, mas alcança a
discrepante diferença de salários entre homens e mulheres no mercado de
trabalho, passando, também, por preconceitos cegos que alimentamos –
fingindo não ver nada – diariamente, ao menosprezar a mulher por ser
loira, ao automaticamente culpar o sexo feminino em uma colisão de
automóveis e, até mesmo, ao julgar a intenção de uma mulher pelo
comprimento da sua roupa.
A ação me fez pensar em um fato que contextualiza o nosso país na
mensagem que ela propaga. Apesar de o Brasil já ser mundialmente
conhecido como um quintal da prostituição, muito em breve estaremos
sediando um dos maiores eventos esportivos do mundo – e para o mundo.
Partindo do princípio da mensagem da campanha, de que grandes eventos
esportivos potencializam o tráfego de mulheres para a prostituição, não
seria uma boa hora para a gente enxergar e enfrentar este problema?
Afinal, junto de tantas seleções, culturas e idiomas, os jogos também
poderão servir de desculpa para o aumento do turismo sexual em nosso
país.
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