Maurício Costa Romão
Numa
coisa os institutos de pesquisa eleitoral são iguais: todos buscam
seguir o padrão estatístico universal de fazer estimativas de parâmetros
da população baseados em amostras representativas dessa população. Fora
disso, diferem sob vários aspectos metodológicos.
Cada
instituto tem sua forma própria de desenhar a amostra, de formular o
questionário e definir a ordem das perguntas, de coletar dados (alguns
abordam os entrevistados nas ruas, outros nos domicílios), de usar
informações secundárias para definir as cotas (sexo, renda, idade,
escolaridade, etc.), etc.
Não
é surpresa, pois, encontrar divergências de estimativas nas pesquisas
de um mesmo campo, ainda que as coletas tenham sido feitas nos mesmos
dias e com tamanho de amostra e margem de erro iguais.
Esses
comentários vêm a propósito de duas últimas pesquisas do Datafolha e do
Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) sobre intenção de votos
para governador no Estado de Pernambuco, cujas diferentes estimativas
causaram certa estranheza.
Os
números dessas pesquisas estão mostrados na tabela acima. Note-se, de
início, que o campo foi realizado nos mesmos dias, mas com distintas
abrangências: o tamanho da amostra do IPMN é o dobro da do Datafolha, do
que resulta ser o erro amostral do IPMN menor.
Na
pesquisa do Datafolha o “não-voto” (brancos, nulos, nenhum e indecisos)
é de dez pontos menor que na do IPMN, daí serem os votos declarados a
candidatos nesse instituto numericamente maiores, com destaque para os
consignados a Armando Monteiro (seis pontos a mais).
Não
obstante as compreensíveis diferenças numéricas, as duas pesquisas
pintam o mesmo quadro: Paulo Câmara se posta à frente de Armando
Monteiro. E as duas pesquisas imediatamente anteriores dos dois
institutos em Pernambuco retratam o mesmo fenômeno: o candidato
socialista aumenta e o oponente petebista diminui suas intenções de voto
de um levantamento para outro.
A
leitura comparativa de números de pesquisas isoladas de institutos
distintos deve ser realizada com muita cautela. Não é recomendável
fazê-la de maneira pontual, adstrita apenas ao cotejo de percentuais.
É oportuno lembrar, ademais, que a pesquisa é um mero instrumento técnico de acompanhamento do processo eleitoral, que serve para apontar tendências, a partir de levantamentos sucessivos.
Tampouco
se pode falar que um dos institutos está “mais certo” que o outro. Isso
só pode ser admissível quando se comparam os números das pesquisas
imediatamente anteriores à eleição com os resultados das urnas.
À
guisa de reforço argumentativo, veja-se agora, na tabela seguinte, um
exemplo nacional recente envolvendo Ibope e Datafolha. Os dois
institutos fizeram pesquisas praticamente nos mesmos dias no início de
junho (há um overlapping de dois dias entre elas), quando o ex-governador Eduardo Campos ainda era candidato.
Os
números das duas pesquisas são diferentes, porém uma leitura mais
abrangente deles revela a mesma fotografia: Dilma Rousseff tem larga
margem sobre o segundo colocado, Aécio Neves, de 15 pontos no Ibope e 16
no Datafolha, e Eduardo está bem distante de ambos.
Enfim,
pesquisas isoladas de institutos diferentes não raro apresentam
resultados numéricos distintos por conta de suas especificidades
metodológicas.
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