segunda-feira, 15 de setembro de 2014

NÚMEROS DIFERENTES NAS PESQUISAS...


Maurício Costa Romão
Numa coisa os institutos de pesquisa eleitoral são iguais: todos buscam seguir o padrão estatístico universal de fazer estimativas de parâmetros da população baseados em amostras representativas dessa população. Fora disso, diferem sob vários aspectos metodológicos.
Cada instituto tem sua forma própria de desenhar a amostra, de formular o questionário e definir a ordem das perguntas, de coletar dados (alguns abordam os entrevistados nas ruas, outros nos domicílios), de usar informações secundárias para definir as cotas (sexo, renda, idade, escolaridade, etc.), etc.
Não é surpresa, pois, encontrar divergências de estimativas nas pesquisas de um mesmo campo, ainda que as coletas tenham sido feitas nos mesmos dias e com tamanho de amostra e margem de erro iguais.
Esses comentários vêm a propósito de duas últimas pesquisas do Datafolha e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) sobre intenção de votos para governador no Estado de Pernambuco, cujas diferentes estimativas causaram certa estranheza.  
Os números dessas pesquisas estão mostrados na tabela acima. Note-se, de início, que o campo foi realizado nos mesmos dias, mas com distintas abrangências: o tamanho da amostra do IPMN é o dobro da do Datafolha, do que resulta ser o erro amostral do IPMN menor.
Na pesquisa do Datafolha o “não-voto” (brancos, nulos, nenhum e indecisos) é de dez pontos menor que na do IPMN, daí serem os votos declarados a candidatos nesse instituto numericamente maiores, com destaque para os consignados a Armando Monteiro (seis pontos a mais).
Não obstante as compreensíveis diferenças numéricas, as duas pesquisas pintam o mesmo quadro: Paulo Câmara se posta à frente de Armando Monteiro. E as duas pesquisas imediatamente anteriores dos dois institutos em Pernambuco retratam o mesmo fenômeno: o candidato socialista aumenta e o oponente petebista diminui suas intenções de voto de um levantamento para outro.
A leitura comparativa de números de pesquisas isoladas de institutos distintos deve ser realizada com muita cautela. Não é recomendável fazê-la de maneira pontual, adstrita apenas ao cotejo de percentuais. 
É oportuno lembrar, ademais, que a pesquisa é um mero instrumento técnico de acompanhamento do processo eleitoral, que serve para apontar tendências, a partir de levantamentos sucessivos.
Tampouco se pode falar que um dos institutos está “mais certo” que o outro. Isso só pode ser admissível quando se comparam os números das pesquisas imediatamente anteriores à eleição com os resultados das urnas.
À guisa de reforço argumentativo, veja-se agora, na tabela seguinte, um exemplo nacional recente envolvendo Ibope e Datafolha. Os dois institutos fizeram pesquisas praticamente nos mesmos dias no início de junho (há um overlapping de dois dias entre elas), quando o ex-governador Eduardo Campos ainda era candidato.
Os números das duas pesquisas são diferentes, porém uma leitura mais abrangente deles revela a mesma fotografia: Dilma Rousseff tem larga margem sobre o segundo colocado, Aécio Neves, de 15 pontos no Ibope e 16 no Datafolha, e Eduardo está bem distante de ambos.
Enfim, pesquisas isoladas de institutos diferentes não raro apresentam resultados numéricos distintos por conta de suas especificidades metodológicas. 

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