No momento em que o Governo do Estado faz a convocatória de
artistas para o Carnaval 2015, o cantor Alcymar Monteiro divulgou na internet
uma Carta Aberta denunciando que levou um “calote” de gestão de Paulo Câmara
pela sua apresentação, em junho, em pelo menos três cidades de Pernambuco. O
artista se mostra revoltado porque “pagou para cantar” e não recebe nem ao
menos uma satisfação dos gestores com relação à dívida por suas apresentações.
“Existem artistas que já me confidenciaram ter vontade de
sair do meio, tamanha a falta de respeito que têm sofrido. Calar um artista,
sufocando-o ao ponto em que ele não tenha mais condições de fazer do seu ofício
sua arte é um ato de lesa-cultura, é calar a voz do povo”, desabafa Alcymar que
começa a carta se dirigindo diretamente ao governador Paulo Câmara, ao
Secretário de Cultura, Marcelino Granja e à presidenta da Fundarpe, Márcia
Souto.
Quando um cantor da categoria de Alcymar Monteiro chega a
este ponto é porque está muito “puto” com os governantes.
Confira na íntegra a Carta Aberta escrita pelo artista:
“À comunidade artística de Pernambuco.
Começo esse texto me dirigindo diretamente ao Governador
Paulo Câmara, ao secretário de Cultura Marcelino Granja, à presidente da
Fundarpe Márcia Souto, ao secretário de turismo Felipe Carreras e à presidente
da Empetur Ana Paula Vilaça.
Todos que lêem jornais ou acompanham minimamente o desenrolar
do quadro econômico do Brasil sabem que estamos em crise. Crise que atinge
todas as camadas sociais. Sou sensível a isso. Porém já estamos em dezembro, e
lá se vão seis meses que emprestei minha voz e meu talento para integrar os
festejos de São João do Governo de Pernambuco, através da Empetur e da
Fundarpe.
Os shows foram feitos. Alugamos ônibus e van. Levamos equipe de filmagem até os locais para filmar o show e tirar fotos do evento – exigência do edital. A banda chegou no horário devido, se hospedou na cidade. Almoçamos, passamos o som, jantamos. Fizemos os shows e a alegria de uma população sofrida, mas sempre animada, como é típico do pernambucano. Acordamos bem cedo e pegamos a estrada rumo a outro destino. 30 dias depois de feito o show nosso representante pagou os impostos da nota fiscal, como toda empresa faz ao prestar qualquer serviço a qualquer Governo. Prestei todas as informações pedidas, entreguei todos os documentos solicitados, e fiz tudo aquilo que me foi exigido. Essa rotina se repetiu três vezes nesse ano, nas cidades de Arcoverde, Tuparetama e na terra de meu pai, Santa Cruz do Capibaribe. Até aí um breve relato que qualquer artista, iniciante ou renomado, conhece de cor.
Só há um problema nessa história: não recebi até hoje um centavo pelo serviço prestado. Pior: não há previsão de pagamento. E o arremate final: o descaso e desdém com que eu, e aposto, vários outros artistas, são tratados quando cobram os valores devidos. O resumo da ópera é que paguei para cantar para o Governo de Pernambuco. Arquei despesas com transporte, equipe de filmagem, hospedagem, alimentação, impostos e tudo o mais. Despesas para manter a carreira girando, como luz, telefone, aluguel, funcionários... Fora os riscos aos quais estamos sujeitos pelas estradas de nosso estado. Até agora, seis meses depois, não recebi nada. Nem um telefone de cortesia para informar uma previsão de pagamento. O que recebi foi o desprezo.
Não quero nem entrar no mérito de isso quase sempre ocorrer com artistas da terra. Perguntem a qualquer atração que venha do eixo Rio-SP, ou até de Salvador, e podem ter certeza que quase a totalidade deles recebeu ou antecipadamente, ou de forma extremamente rápida. Só isso já é um escândalo em si próprio, que mostra bem o valor que nosso governo dá aos seus conterrâneos, mas já ficou tão diluído no teatro do absurdo, que se tornou informação menor.
Para quem não sabe o Governo de Pernambuco é um dos mais
exigentes - com toda razão - em relação ao cumprimento dos editais de seus
shows.
Temos que cumprir uma série de formalidades, além de apresentar mais de vinte certidões das mais variadas exigências: de que não empregamos menores de idade, de que não utilizamos trabalho escravo e por aí vai. O Governo também exige que filmemos o evento, além de banners e faixas, que comprovem nossa presença nos shows. Fora isso o Governo exige que, para o prosseguimento do processo de pagamento, todos os impostos estejam pagos antecipadamente. Tudo isso não teria nenhum problema se o mais simples fosse feito: o Governo pagasse na data combinada a quem deve.
Tenho 33 anos de carreira. Mais de 90 discos lançados. Alguns
deles, com orgulho, na Europa e nos Estados Unidos. Sou representante da
cultura de um povo com 60 milhões de habitantes. Respiro música e cultura 24
horas por dia. Vivo disso. Essa é a minha lavoura, meu ganha-pão. Da minha
garganta eduquei meus filhos e dou emprego a quase 50 pessoas. Pessoas essas
cujas famílias se alimentam graças a esses eventos. Shows musicais não são
farras - como dito por alguns. São manifestações folclóricas de um povo, que
eu, humildemente, tento traduzir e reproduzir, levando aos quatro cantos do
mundo.
O que peço, encarecidamente, não é nada demais. Só peço
respeito. Peço que paguem o que devem, não só a mim mas a vários outros
artistas. Peço ao Governador Paulo Câmara, que se espelhe em seu antecessor - o
amigo e saudoso Eduardo Campos - e que veja a classe artística com olhos mais
de poeta e menos de economista. Peço aos secretários Carreras e Granja, à
Presidente da Fundarpe Márcia Souto e à presidente da Empetur Ana Paula Vilaça,
que vejam a classe artística pernambucana como prioridade – sempre – e não como
produtos de segunda classe. Espero também que todos os envolvidos vejam essa
missiva não como um produto de raiva ou rancor, e sim uma cobrança pelo que é
justo e direito. Existem artistas que já me confidenciaram ter vontade de sair
do meio, tamanha a falta de respeito que têm sofrido. Calar um artista,
sufocando-o ao ponto em que ele não tenha mais condições de fazer do seu ofício
sua arte é um ato de lesa-cultura, é calar a voz do povo”.
Antonio Alcymar Monteiro dos Santos, artista brasileiro
CONOSCO: Que coisa....E ainda tem denuncias em certas cidades de super faturamento em shows.
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