" O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) vem atuando, nos
últimos dias, para evitar que algumas Câmaras de Vereadores proíbam, via
projeto de lei, o debate sobre gênero e sexualidade dentro de escolas
municipais. Só no mês de novembro, Garanhuns, Cabo de Santo Agostinho e
Camaragibe já produziram matérias legislativas buscando vedar o conteúdo na
grade curricular de ensino nas redes pública e privada. A Câmara do Recife e a
Assembleia Legislativa (Alepe) também propuseram vetar a “ideologia de gênero”
na Base Nacional Curricular Comum, instituída pelo Ministério da Educação
(MEC).
Para o MPPE, propostas nesse teor - comumente vinculadas a
bancadas religiosas - são inconstitucionais, atentam contra a laicidade do
Estado e, em última instância, ainda reproduzem preconceitos que agridem
garantias e direitos fundamentais da pessoa humana. Por outro lado, gestores e
parlamentares se mostram resistentes a ouvirem a recomendação dos promotores, o
que pode acarretar medidas judiciais.
O caso que chamou mais atenção foi o projeto de lei da Câmara
de Garanhuns, de autoria do vereador Audálio Ramos Filho (PSDC). Em seu texto,
a proposta determina: “fica terminantemente proibido na grade curricular de
ensino da rede municipal a disciplina denominada ideologia de gênero, bem como
toda e qualquer disciplina que tente orientar a sexualidade dos alunos ou que
tente extinguir o gênero feminino e masculino como gênero humano”.
O promotor Domingos Sávio Pereira Agra, responsável pela
comarca da cidade, expediu a recomendação ao Poder Executivo para que a
proposta - aprovada anteontem - seja vetada. Caso a orientação não seja
respeitada, o MPPE encaminhará à Procuradoria Geral da República uma
propositura de Arguição de Descumprimento de Preceito Federal (ADPF).
“O referido projeto de lei e seu substitutivo, ao pretenderem
censurar abordagens sobre gênero nas escolas, que são ambientes naturalmente
destinados ao debate no Estado democrático de Direito, reforçam estereótipos e
preconceitos contra os que não se enquadram nos padrões ditos dominantes”,
alertou o promotor, no texto da recomendação.
Contrariando o MPPE, o prefeito Izaías Régis (PTB), ouvido
pela reportagem, já afirmou que irá sancionar a matéria. “Eu vou ser favorável,
vou sancionar a lei. Foram 12 favoráveis e um contrário, por tanto ficarei do
lado do Legislativo. Estou seguindo o que o País e a sociedade toda estão
dizendo, as famílias estão exigindo. Estou sofrendo pressão da sociedade, das
igrejas. Estou do lado de Garanhuns”, justificou o prefeito, cujo autor da
proposta integra sua base aliada.
Responsável por medida semelhante no Cabo de Santo Agostinho,
a promotora Alice Morais já advertiu a Câmara Municipal e o prefeito Lula
Cabral (PSB) sobre o projeto de autoria do vereador Mário Anderson da Silva
Barreto (PSB), proibindo atividades pedagógicas que reproduzam o conceito "ideologia
de gênero".
"Existem equívocos nessa matéria do ponto de vista
formal, porque município não tem competência para legislar sobre conteúdo
programático, e do ponto do conteúdo, porque atenta contra direitos básicos,
faz censura à liberdade de expressão", afirma a promotora. Por meio de
nota, a prefeitura alega que ainda não recebeu nenhum projeto e que, quando
receber, se posicionará."
http://www.folhape.com.br/politica/politica/politica/2017/12/01/NWS,50601,7,547,POLITICA,2193-DISPUTA-ENTRE-MPPE-PREFEITURAS-SOBRE-IDEOLOGIA-GENERO.aspx
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