O Bispo
Diocesano de Garanhuns, Dom Paulo Jackson, divulgou, na manhã de hoje, dia 30,
nota sobre a polêmica gerada diante da apresentação do monólogo ‘O
Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu’, protagonizado pela atriz Renata
Carvalho, e que estaria previsto para acontecer nos próximos dias 26 e 27 de
julho, aqui em Garanhuns, dentro da programação do 28º Festival de Inverno de
Garanhuns. Confira:.
Eis a íntegra da nota da Diocese:
Nesses dois últimos dias, a cidade de Garanhuns foi tomada
por -ulna discussão em tomo de uma peça teatral que está na programação do
Festival de Inverno de Garanhuns — 2018. Trata-se da peça "O Evangelho
segundo Jesus, rainha dos céus" (IIE GOSFI according to Jesus, queen of
heaven): escrita pela atriz transexual escocesa Jo ClifTord; dirigida, no
Brasil, por Natália Mallo; e encenada pela atriz transexual Renata Carvalho.
Estão em jogo dois grandes valores presentes na Constituição
Federal da República do Brasil: l) a liberdade de expressão intelectual,
artística, científica e de comunicação, conteúdo do Art. 50, IX; 2) e a
inviolabilidade da fé e da crença, estabelecida no mesmo artigo quinto, inciso
VI, e ratificada no Código Penal Art. 208, quando trata dos crimes contra o
sentimento e contra o desrespeito aos mortos. O Art. 208, do Código Penal,
normatiza claramente o crime de vilipêndio público às religiões e especificamente
contra um ato religioso. Isso acontece, na peça- em relação à imagem de Jesus
Cristo e à Eucaristia. Compreendemos que a liberdade de expressão artística não
pde ferir o sentimento religioso e a identidade cristã de uma inteira
população.
3. O título da peça apresenta dois evidentes equívocos, que
nem a liberdade artística permiti: 1C) o Evangelho nunca é
"segundo" Jesus, pois Jesus mesmo é o Evangelho e o mensageiro dessa
boa e esperançosa noticia a humanidade; 2º) apresentar Jesus como rainha dos
céus - Ora, Jesus era homem. Em nenhuma fonte bíblica ou historiográfica jamais
se ousou apresentá-lo como mulher, e muito menos como transexual. Não seria
razoável, por exemplo- apresentar a rainha Cleópatra como homem, vivendo um
caso homossexual com Júlio César ou Marco Antônio- A pergunta que se deve fazer
é: até onde a arte tem a liberdade para ressignificar papéis? Escrever
palavrões em hóstias é arte? Está ressigaificando alguma coisa? Um homem nu que
rala uma imagem de Nossa Senhora Aparecida com um ralo de cozinha e recolhe os
fragmentos numa gamela, isso é arte? O que estaria ressignificando? O que seria
razoável para a arte na tarefa da ressignificação e, ao mesmo tempo, no
respeiito às pessoas e às suas sensibilidades?
4- Creio tanto o Governo do Estado de Pernambuco por meio da
Secretaria de Cultura e da Fundarpe, quanto o Governo Municipal de Garanhuns
perdem a oportunidade de impostar a discussão sobre outra perspectiva- O nosso
país é o que mais mata homossexuais, travestis e transexuais no mundo. Ao mesmo
tempo, é o país que mais consome sexo e pornografia- O Município de Garanhuns
está entre os campeões no quesito "violência contra a mulher". A
nossa terra é uma terra que covardemente mata mulheres. O que o Governo Estadual
e o Governo Municipal podem fazer pra amenizar e, em médio e longo prazos,
resolver essa triste situação? Trazer peça teatral que fere a
sensibilidade das pessoas simples da nossa terra? É isso que vocês podem fazer?
É respeitoso para com a Cidade de Garanhuns o discurso do Secretário de
Cultura? Isso constrói uma cultura de paz e diálogo? E respeitoso o modo como a
Fundarpe trata a preparação do Festival de Inverno e o diálogo com as
instituições parceiras, inclusive com a Diocese de Garanhuns por meio da Paróquia
da Catedral, onde o Palco de Música Clássica Instrumental?
5. Lamentamos também profundamente que essa discussão possa
ser utilizada para fins eleitoreiros. Já basta! O conflito entre o Governo
Estadual e o Governo Municipal de Garanhuns, e vice-versa, só vem diminuindo a
nossa terra, só tem nos prejudicado, só tem inviabilizado investimentos e a
resolução dos graves problemas do nosso povo que tanto sofre. É hora de serem
estadistas! Olhem para o nosso povo sofrido, humilhado, vivendo uma das piores
crises sociais, econômicas e éticas de todas as épocas. Não olhem para as
situações com os mesquinhos de uma sigla partidária e de uma campanha
eleitoral. E vou até adiante: é a hora de pensar Garanhuns. E razoável, por
exemplo, que uma cidade de 140 mil habitantes não tenha um Deputado Estadual e
um Deputado Federal? É hora de pensar o Município de Garanhuns e as redondezas.
Paramos no tempo- Temos perdido oportunidades.
6. Por tudo isso, não concordamos de nenhum modo que a peça
seja apresentada em Garanhuns no Festival de Inverno. Não é disso que
necessitamos. Ao mesmo tempo, já afirmo: não entraremos em nenhuma frente para
impedir que a peça seja apresentada. Se for, Senhor Governador, o senhor está
ferindo profundamente a nossa gente. Duas únicas coisas, eu posso fazer
como bispo da Diocese de Garanhuns: conclamar o povo católico a não tomar parte
nesse acinte e proibir que a Igreja Catedral seja utilizada como um dos palcos
do Festival de Inverno 2018.
7. Que o Espirito Santo de Deus
nos ilumine para encontrarmos dialogadas e que gerem verdadeiramente uma
cultura de paz.
Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa
Bispo da Diocese de Garanhuns