Na Avenida que leva seu nome, mas sem uma palavra sobre sua
história. Como tantas, quiçá todas, as ruas e avenidas da cidade. História, sem
exagero, que se confunde com a história da cidade. Da cidade, nascida por seu
gesto. Sim, porque tudo começara por ela. Através de seu desapego ao material.
Por ver longe, muito longe... o que seria a sua “Fazenda do Garcia”, ela já
viúva, herdeira, portanto, de seu esposo Manoel Ferreira de Azevedo. Fazer das
suas terras, a “Freguesia de Santo Antônio de Garanhuns”; mais tarde, “Povoação
de Santo Antônio de Garanhuns” e “Vila de Santo Antônio de Garanhuns”, e,
afinal, “Cidade de Garanhuns”.
Esses presságios porque passara e ainda passa a sua “Fazenda
do Garcia”, ela, a nossa heroína Simôa Gomes de Azevedo, positivamente, não
haveria de conhecer. Nem ela, nem os seus. Nem os que lhe cercavam.
O nome de Simôa Gomes de Azevedo, contudo, não poderia ser
esquecido pelos garanhuenses, como, em verdade, não fora nem tem sido. Contudo,
a sua história na cidade deveria e ainda deve ser lembrada a gerações, até
porque muitos velhos e crianças ainda hoje não sabem se Simôa era homem ou
mulher. A que gênero, portanto, pertencia. Muitos ainda se atrevem em perguntar
se era homem ou mulher. Ou a dizerem: “Seu Simôa. Dona Simôa”.
Givaldo Calado - por ocasião do translado do busto de Simoa Gomes, colocado na Avenida Rui Barbosa, após dez anos de sua inauguracão na rua de seu nome, Simoa Gomes, em evento realizado pelas damas do Clube Litero Recreativo, Brasil Estados Unidos.
Com o fim da Guerra dos Palmares, começaram a chegar a
esta região muitos negros e índios perseguidos. A mesma foi se povoando e
formando diversas comunidades negras, ou pequenos quilombos, como também
mocambos.
Com a vitória, Domingos Jorge Velho ganhou como prêmio uma
sesmaria de seis léguas de terra. Não querendo aqui ficar, entregou tudo ao seu
filho, Miguel Coelho Gomes.
Tudo isso aconteceu em 1694. Domingos Jorge Velho não era
flor que se cheirasse, foi um cruel perseguidor e assassino de índios e negros.
Sua maldade era sem limites.
Simôa Gomes nasceu em dezembro de 1693. Filha do Sr.
Miguel Coelho Gomes com uma índia Cariri, da tribo dos Unhanhú. Neta de
Domingos Jorge Velho e Dona Jerônima Fróes.
Simôa Gomes herdou sua parte de terra, ao falecer seu marido,
Manoel ferreira de Azevedo, em 1729. Em 1756, Simoa Gomes já viúva ,
através de Escritura Pública doou uma parte de terra da Fazenda do Garcia à
Confraria das Almas da Igreja Matriz da Freguesia de Santo Antonio do Ararobá,
a atual igreja Matriz de Garanhuns. Simôa Gomes faleceu em 1763.
A igreja foi erguida sob a égide de Santo Antonio,
possivelmente em homenagem ao fundador da Fazenda, Antonio Garcia.
As Confrarias eram grupos de pessoas que se associavam para
promover a devoção e o culto a um santo. Às vezes erigiam um altar em algum
lugar, e às vezes já havia uma capela dedicada ao santo e a função da Confraria
era cuidar e zelar pela capela.
Além disso, os membros da Confraria se ajudavam mutuamente,
promoviam sepultamentos, oravam pelas almas dos falecidos, cuidavam das viúvas e
dos órfãos etc.
Havia, também, pessoas que designavam a sua própria alma como
herdeira de seus bens. Assim, doavam seus bens à Confraria, e, depois de sua
morte, a Confraria administrava aqueles bens e orava pela alma da pessoa que
doou. Desta forma, o doador, garantia a realização de missas pela sua alma,
para que ela se salvasse no juízo final.
Em 10 de março de 1811 o Povoado de Santo Antonio
dos Garanhuns passa à Vila. Segundo o historiador Alfredo Leite
Cavalcanti, a esta altura já havia um povoado com 156 prédios na
propriedade da Confraria, que desde 1813 já se chamava Vila de Santo Antonio de
Garanhuns.
Mas, ao que parece, depois da morte de Simôa Gomes, os
membros da Confraria esqueceram o combinado. O deputado Austerlino Correa de
Castro contou ao seu neto, o vereador Fausto Souto Maior e este mandou
escrever, o seguinte fato: "Em 1855, o Juiz de Direito Dr. José
Bandeira de Melo, verificando o estado de abandono do patrimônio doado por
Simôa Gomes, instaurou um processo que determinou o sequestro e a incorporação
dos bens ao Patrimônio Nacional, a sentença saiu em 26 de Julho de
1855".
Em 1872, o Juiz de Direito, Antônio Manoel de Medeiros
Furtado, regularizou a cobrança do foro e os pagamentos das missas para as
almas, supondo-se que tenha sido anulada a sentença do sequestro do patrimônio
da Confraria das Almas, mas tudo indica que em nada resultou por que não
existem documentos que comprovem essa anulação.
Assim nasceu Garanhuns no seio da propriedade doada por Simôa
Gomes de Azevedo à Confraria das Almas.